A filantropia é e deve ser, uma prática consistente no tempo, mas em permanente adaptação às necessidades das entidades e pessoas que serve.

Desde os tempos em que o livro “O Evangelho da Riqueza” foi escrito por Andrew Carnegie em 1889, temos visto vários tipos de apoio financeiro e não financeiro a surgirem como soluções providenciadas pelas fundações de todo o mundo. Regista-se também uma progressiva evolução da prática tradicional de concessão de donativos, para o investimento de capital paciente, com expectativas de médio-longo prazo e com condições “abaixo de mercado” que são conjugadas com um apoio não financeiro desenhado a partir das necessidades da organização.

Os investimentos em projetos de inovação social com as características referidas são designados de “investimento de impacto” e o papel das fundações é ser o elemento catalisador deste processo.

Nem todos os projetos de inovação social possuem, no momento da sua criação, as características de um “negócio social”, com possibilidade de gerar receitas e com previsibilidade de crescimento. Na maior parte dos casos, estes projetos necessitam de ser apoiados por via de donativos para ganharem a solidez necessária e ficarem preparados para receber investimento com vista ao seu crescimento.

Mas… negócios sociais? Investimento de impacto? É isto que é o ESG (Environmental, social and corporate governance) que ouvimos ser abordado massivamente nos meios?

Salientando que a confusão que existe sobre os termos e conceitos pode ser encarada como algo positivo, uma vez que isso significa que os mesmos estão, finalmente, a sair da pequena bolha de especialistas e começam, finalmente, a ter a atenção da população geral, imprensa, empresas e setor público.

Sem entrar em demasiados detalhes, um investimento ESG significa que o investidor utilizou uma metodologia que lhe permite analisar os riscos ambientais (Environmental), sociais (Social) e de modelo de governo (Governance) do investimento e, a partir daí, escolher investir numa empresa que identifique os seus riscos nestes campos e apresente soluções para minimizar os seus impactos negativos.

Dentro de todo o espectro de Investimento ESG, temos, num dos polos, o Investimento de Impacto. Este conceito aplica-se quando o investimento é realizado com a intenção clara e principal de gerar um determinado impacto social, em conjunto com retorno financeiro. Em Investimento de Impacto, o impacto social e/ou ambiental, nunca é um acaso, antes pelo contrário, ele é uma intenção que existe antes do investimento ser realizado.

Podemos imaginar uma matrioska, no qual o Investimento de Impacto é uma boneca que encaixa dentro de outra maior, sendo esta última o ESG. Acrescente-se, uma boneca ainda pequena, uma vez que o Investimento de Impacto corresponde a 3,3% do mercado global de ESG, embora tenha crescido 511% entre 2018 e 2022, por comparação com o mercado ESG, que se mantém estável.

É, precisamente, neste ponto de alavancagem que entra a filantropia estratégica. Pelo seu perfil inerente, o capital filantrópico pode e deve correr mais risco, apoiando projetos a cresceram e a evoluírem com uma lógica de geração de receitas que lhes permita previsibilidade e autonomia. Nenhum projeto escala o seu impacto alicerçado numa política de donativos (se duvidam, perguntem aos empreendedores sociais!) e…sem escala não se resolvem problemas sociais!

Em Portugal existem sinais evidentes de crescimento desta abordagem ao investimento, quer por parte do setor privado (fundos de investimento), do setor social (fundações) e do setor público, no qual destaco a iniciativa nacional pública, Portugal Inovação Social, cujo objetivo é ser um catalisador do setor da filantropia e do investimento de impacto, através da criação de parcerias entre empreendedores sociais e investidores. O caminho ainda está no início, mas estou confiante de que já se andou o suficiente para não voltarmos atrás.