Escrevo esta coluna de opinião na manhã do dia em que o país se encontra suspenso de uma decisão cujos pressupostos foram entregues aos designados especialistas da área da Saúde mas que, economicamente falando e tenha o novo confinamento geral a duração de duas ou quatro semanas, equivalerá a um impacto económico brutal sobre os rendimentos que – de acordo com especialistas como o economista Abel Mateus – poderá causar perdas de 4 a 7% no primeiro trimestre deste ano, face ao mesmo período do ano anterior. Grosso modo, estamos a falar numa diminuição de 15 mil milhões de euros, apenas no primeiro trimestre deste ano.
Com base nestas mesmas estimativas, as quais pecam apenas por otimismo podendo vir a ser ainda mais expressivas se as medidas adotadas vierem a ter que considerar o fecho dos estabelecimentos escolares, há uma preocupação fulcral que deve estar na cabeça do Governo e que a Oposição, à qual pertenço, não deve deixar de reiterar para garantir o devido cumprimento; a de que o processo de vacinação seja tão acelerado e alargado quanto possível, à medida que o vírus da Covid-19 parece tender a alastrar.
Como, na sua primeira página, chamou esta semana a atenção o “New York Times”, o vírus modifica a sua forma. Em países como a África do Sul, os cientistas deparam-se com o resultado de investigações genéticas que comprovam as conclusões de um trabalho conduzido também em outras regiões do planeta: o coronavírus não só evoluiu para uma ou mais novas variantes, como essas mesmas variantes se disseminam a uma velocidade muito superior à versão original, atingindo em pouquíssimo tempo mais de 45 países e muitos deles – como Portugal – ainda longe de entender o alcance e as consequências para a saúde humana dessas mesmas mutações. Para termos apenas uma ideia, esta nova estirpe foi responsável, em apenas dois meses e meio, por 60% dos novos casos de contágio ocorridos no Reino Unido.
Em consequência desta situação generalizada, fala-se de uma corrida às vacinas e a realidade altera-se para alargar a capacidade de inoculação. A BionTech e a Pfizer juntas, como destacou esta semana o “Financial Times”, conseguiram acrescentar 500 milhões de inoculações este ano, visando o objetivo de dois mil milhões de doses em 2021 nos países europeus. Mesmo assim, o ritmo afigura-se lento.
É certo que a União Europeia deu um fortíssimo sinal de existência ao coordenar e distribuir as doses de vacina, mas ao mesmo tempo temos que assumir que todo o processo até à inoculação se está a verificar comparativamente muito lento face à realidade demonstrada em Israel, por exemplo, ou mesmo no Reino Unido.
Portugal não deve nem pode, por razões socioeconómicas que são já sobejamente percetíveis para a maioria, correr o risco de que o processo de vacinação seja dilatado ou prejudicado por razões de ordem logística ou outras. A vacinação é a única esperança que temos para que se possa evitar maiores confinamentos gerais e suas consequências. Como alguém já o disse, a maior parte das questões complicadas têm respostas simples. Neste caso, essa simplicidade decorre de algo tão evidente quanto a inexistente margem de erro que pode estar envolvida em todo o processo.
Chamava-se Lisa Montgomery e foi a primeira mulher condenada à morte a ser executada pelo governo dos EUA desde 1953. Morreu esta semana por injeção letal na prisão de Terre Haute, no Estado de Indiana. Foi a 11º prisioneira a ser executada desta forma nos EUA, desde julho de 2020. Para alguém, como eu, que defende a vida humana, a pena capital é algo de anacrónico e inconcebível. Como escreveu Vitor Hugo em 1867 a Pedro de Brito Aranha quando Portugal aboliu a pena de morte: “Desde hoje, Portugal está à frente da Europa (..) Proclamar princípios é ainda mais belo do que descobrir mundos.”
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