Em 2015, poucos meses antes do histórico Acordo de Paris sobre o clima, Mark Carney, na altura governador do Banco de Inglaterra e Presidente do Conselho de Estabilidade Financeira, fez um discurso que ficou célebre. Nele sublinhava a necessidade de compreender os impactos das alterações climáticas para lá dos ciclos comerciais e políticos tradicionais, e exortava governos de todo o mundo a agirem para minimizar o assustador impacto das alterações climáticas na prosperidade do planeta.
Uma perspetiva de longo prazo é crucial para garantir que os riscos das alterações climáticas e as oportunidades da transição para a neutralidade carbónica são devidamente incorporados e avaliados no processo de tomada de decisões financeiras.
O Governo do Reino Unido tem vindo a promover esta abordagem de longo prazo através da sua estratégia financeira verde. Essa estratégia está focada em acelerar o financiamento para apoiar a concretização dos nossos objetivos de neutralidade carbónica, crescimento limpo e ambições ambientais, bem como em tornar o sistema financeiro mais ‘verde’, garantindo que os riscos financeiros e as oportunidades atuais e futuras dos fatores climáticos e ambientais são integrados na tomada de decisão, e que os mercados de produtos financeiros ‘verdes’ são eficientes.
O Reino Unido também tem liderado esta agenda a nível internacional. Em novembro, por ocasião da COP26, mais de 450 instituições, responsáveis pela gestão de mais de 130 mil milhões de dólares de ativos financeiros privados, comprometeram-se com uma meta de zero emissões através da Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ), no âmbito da campanha “Race to Zero” das Nações Unidas.
Mais de 90 gestores ou proprietários de ativos já estabeleceram metas concretas de descarbonização até 2025 ou 2030. Para garantir o rigor deste processo, a GFANZ comprometeu-se a apresentar periodicamente contas ao Conselho de Estabilidade Financeira e a trabalhar com os governos para colocar os planos de transição numa base regulamentar sólida.
Explorar o enorme potencial das Finanças Sustentáveis para proporcionar uma transição para sociedades neutras em carbono, enquanto se estimula o crescimento a longo prazo, será essencial para todos os países com ambições climáticas de longo prazo. O financiamento sustentável é uma prioridade política cada vez mais importante para Portugal, e uma área de trabalho cada vez mais relevante para a minha equipa na Embaixada Britânica.
Nos últimos dois anos, desenvolvemos uma série de atividades destinadas a promover a discussão sobre estes temas, colaborando com instituições e empresas portuguesas, e facilitando a partilha de boas práticas entre os dois países. Em setembro passado, assinámos um Memorando de Entendimento com o ISEG, Universidade de Lisboa, para apoiar o lançamento do seu Centro de Conhecimento de Finanças Sustentáveis (SFKC), o primeiro do género em Portugal. Partilhamos a ambição de criar um centro financeiro sustentável, visando liderar a discussão e sensibilizar para a importância das Finanças Sustentáveis em Portugal e em todo o mundo.
No âmbito desta parceria, co-organizaremos a Semana das Finanças Sustentáveis, um evento híbrido que decorrerá nos dias 29 e 30 de março, com a participação de oradores britânicos e portugueses de grande qualidade para debater a agenda financeira sustentável nas políticas públicas, na educação e no setor privado. Espero poder contar com a vossa presença.