No dia em que redijo esta crónica, dois jornais nacionais fazem título de capa com as garantias adicionais exigidas pela banca para a concessão de linhas de crédito aos empresários em aflição. Como testemunhado por vários, as entidades bancárias exigem – em cima da garantia estatal – a entrega de avales pessoais, de hipotecas ou a reestruturação de empréstimos anteriores existentes.

A estas exigências soma-se uma declaração da Caixa Geral de Depósitos, o nosso banco estatal, justificando o facto de não atribuir a garantia do Estado de 90% para todas as empresas sendo, em alguns casos, apenas de 80%. “As empresas não representam todas o mesmo nível de risco, nem têm todas o mesmo relacionamento com o banco. Deste modo, o tema das garantias é decidido casuisticamente, em função da situação em concreto de cada empresa”, explicou fonte oficial do banco público ao “Jornal de Negócios”.

Ora esta atribuição casuística é exatamente o que não deve acontecer, sob pena de se atrasar sobremaneira a disponibilização das verbas a quem delas necessita, numa altura em que todos os dias contam para o agravamento ou o alívio da situação financeira das empresas. Já basta que as linhas de crédito sejam atribuídas por sector e não, como sucede na Alemanha, através de um programa de financiamento único, com garantias estatais de até 100%.

Veja-se, por exemplo a situação da restauração, com os responsáveis da AHRESP a anteciparem que 80% das suas empresas tenha uma faturação de zero euros neste mês e no próximo, e queixando-se em particular do facto de as linhas de financiamento não estarem a corresponder às necessidades. É um exemplo apenas daqueles sectores em crise que, como salientou o economista Abel Mateus recentemente, “não são cobertos, com graves consequências sistémicas”.

Face a isto tudo, torna-se ainda mais relevante o esforço que tem sido desenvolvido pelo Presidente da República, no diálogo com os responsáveis pelo sistema financeiro e pela banca.  Neste mesmo dia em que escrevo, Marcelo Rebelo de Sousa recebe em Belém Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, e Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, sendo que o encontro com este último será determinante para resolver a questão da ‘pescadinha de rabo na boca’ que se coloca nesta situação.

Por um lado há que estabelecer as regras a cumprir por parte dos bancos na concessão dos empréstimos, por outro há que assegurar que os mesmos bancos possam viabilizar a atribuição dessas verbas sem verem, eles próprios, afetada a sua solidez financeira no futuro.

Como democrata-cristão, entendo perfeitamente a dificuldade do papel que está a ser exercido pelo Chefe de Estado, procurando assegurar que é cumprido o papel social por parte das instituições financeiras e que as mesmas entendem a urgência da concessão de moratórias. E considero que a banca tem de ter muita atenção à sua frágil reputação junto da sociedade civil e deve comunicar de forma muito cuidada e sensível as medidas que toma e as exigências que coloca aos empresários e cidadãos. Haja sensibilidade e bom senso.

 

Depois da criação artificial de uma photo opportunity que foi amplamente gozada nas redes sociais, ao fazer a entrega de uma bilha de gás, Fernando Medina voltou ao mesmo e fez-se fotografar sorridente, frente a um avião que transportou equipamento médico. Mais uma vez, as críticas choveram. É triste que o presidente da CML não tenha lucidez suficiente para perceber que os seus atos de propaganda caem mal junto das pessoas e são vistos como aproveitamento político de situações muito delicadas.