O ouro foi desde sempre um pilar na economia, não só pelo seu valor intrínseco, mas também pelo simples facto de ser geralmente aceite. Com o desenvolvimento do mundo e respetivas relações comerciais, o uso de um metal deixou de ser prático. Eventualmente começou a procura por alternativas que revolucionariam o conceito de moeda.

Esta relação direta da moeda com o ouro serviu como base para as taxas de câmbio e, deste modo, proporcionou-se um maior desenvolvimento internacional através da estabilidade de preços. Onde no passado as taxas de câmbio se encontravam fixas ao ouro, nos dias de hoje, tornou-se normal para os países economicamente mais fortes optarem por taxas de câmbio variáveis. Com isto os bancos centrais deixam a sua moeda apreciar e depreciar conforme e ganham uma importante ferramenta: o controlo autónomo da política monetária.

Este novo paradigma de controlo autónomo sobre a política monetária foi recebido entre opiniões divididas. Será uma ferramenta demasiado poderosa para ficar ao dispor de uma entidade central? Por um lado, pode servir como forma de superar períodos deflacionários, bem como, estimular a economia. Por outro, pode dar espaço à corrupção e manipulação. A centralização deste poder permitiu que se agisse rapidamente perante um choque como o da Covid-19. Sem esta ferramenta, o mais provável seria enfrentarmos consequências agravadas. Mas, foi também o seu uso que criou elevadas expectativas em relação à inflação e incerteza sobre a estabilidade futura.

Atualmente vivemos num estado binomial. Ou os bancos centrais têm acesso a estes mecanismos ou não são de confiança para tal. Ambas as vertentes têm os seus prós e contras, mas nenhuma delas se tem relevado bem sucedida durante todos os períodos do ciclo económico.

Se no passado não existiam grandes alternativas a uma unidade central para a criação e manutenção do sistema monetário, nos dias de hoje podem existir. Graças às novas tecnologias, a moeda pode passar a ser um ativo digital, uma criptomoeda.

Poderá a bitcoin ser o futuro? Para muitos a criptomoeda representa a revolução do sistema e o futuro, mas talvez seja só uma iteração. Como ativo, tem características bastante semelhantes ao ouro: é valiosa para grande parte da população e tem oferta limitada. Além disso, é infinitesimamente divisível e de transação instantânea.

Como moeda, a bitcoin não será suficiente para substituir o nosso sistema, pode não vir a ser o futuro do euro, mas pode vir a ser o renascer do padrão-ouro. Apesar de não reunir as características para substituir o euro, esta criptomoeda pode tornar-se o próximo ativo a ser ordinariamente aceite como método de pagamento e reserva de valor.

Neste cenário, existiria uma dualidade na moeda em circulação, existindo uma componente controlada pelo banco central, mas também uma reserva de valor independente das políticas monetárias. No início do mês de junho, El Salvador tornou-se o primeiro país do mundo a apostar nesta modalidade e a aceitar a bitcoin como moeda legal.

Poderá esta decisão definir um precedente para o futuro?

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o ITIC, o grupo de estudantes que integra o Departamento de Research do Iscte Trading & Investment Club.