O abandono escolar, após o primeiro ano de licenciatura, voltou a aumentar nas instituições de Ensino Superior públicas, fixando-se, agora, nos 11,73%. Os dados divulgados pelo Portal Infocursos vêm confirmar uma tendência de crescimento que se mantém há, pelo menos, oito anos.
Estes números têm múltiplas justificações, no entanto, a que mais preocupa – e que reflete os avisos e as preocupações do movimento estudantil – tem, efetivamente, origem nas condições económico-financeiras dos nossos estudantes. Com a inflação e a subida de custo da habitação, estudar fica cada vez mais caro e são muitos os que, depois de um primeiro ano com menor aproveitamento, são obrigados a desistir, por não terem condições socioeconómicas para dar continuidade ao seu percurso académico.
Além da enorme carga financeira a que um aluno está sujeito aquando da sua entrada no Ensino Superior – destacando-se, aqui, as propinas, o alojamento, a alimentação, as deslocações, entre outros –, atualmente, um estudante bolseiro de ação social que, por má adaptação, não consiga completar mais de 60% dos créditos, perde a bolsa de ação social.
Esta realidade obriga, naturalmente, muitos jovens a desistir do sonho, o que não é justo, nem aceitável, uma vez que as dificuldades de adaptação – principalmente na transição para o Ensino Superior, com todas as mudanças e desafios que apresenta – são completamente normais, aceitáveis e justificáveis. Não é, por isso, justo que esta “regra” ponha em causa a possibilidade de um jovem prosseguir estudos e o obrigue a desistir do seu projeto de vida.
Enquanto sociedade, não devemos compactuar com a narrativa de que o Estado deverá financiar a “preguiça” dos que se prolongam no Ensino Superior, mas antes ter a sensibilidade social para permitir que, embora tenha tido um mau ano – por dificuldade de adaptação, por necessidade de um maior período para se encontrar e para se organizar –, um estudante consiga manter a sua bolsa de ação social, se conseguir terminar o curso em apenas mais um ano do que o suposto.
Esta é apenas uma das propostas entregues ao Governo e que urge ser implementada para combater o flagelo crescente que é o abandono escolar.
Numa altura em que tanto se fala de solidariedade, de justiça social e de saúde mental, seria importante passarmos das palavras aos atos e colocarmos o bem-estar dos estudantes em primeiro lugar. Estamos convictos que, ao implementarmos um conjunto de medidas que visam protegê-los numa nova, desafiante e importante fase das suas vidas, estamos a proteger os jovens, mas, sobretudo, a educação e o futuro de uma geração: o futuro do país.
O Ensino Superior tem, hoje e mais do que nunca, de funcionar como um elevador social e não como reprodutor das desigualdades pré-existentes. É hora de pensarmos, por isso, no que pode e deve ser alterado, para que o abandono escolar diminua e para que o Ensino Superior seja, efetivamente, casa de oportunidades, segurança e futuro.
Cada vez que um estudante abandona o Ensino Superior por dificuldades económicas, estamos a falhar enquanto sociedade. Queremos continuar a compactuar com esta realidade e hipotecar o futuro de milhares de jovens?