Há dias tive oportunidade de participar em Madrid num interessante debate sobre a suposta menor relevância das empresas num mundo cada vez mais digital. A tese defendida pelos meus interlocutores é que a transformação digital da sociedade diminui a necessidade das pessoas e do capital se organizarem de forma estável para criar valor. Os argumentos aduzidos incluíam a disponibilidade em tempo real de talento autónomo para integrar qualquer projeto; os novos formatos de trabalho remoto, que permitem a colaboração de pessoas localizadas em geografias dispersas; a potência das novas ferramentas de trabalho virtual; e a maior agilidade e menores custos fixos desses formatos de organização.

É legítimo que a fluidez do tempo em que vivemos nos permita questionar os pilares do nosso modelo económico. Na generalidade das empresas, o seu tamanho ótimo está a diminuir porque estamos progressivamente a substituir ativos próprios e funcionários qualificados por micro-parceiros cujo talento, agilidade e qualidade parecem garantir melhores resultados, pelo menos no curto prazo. Já não se trata só da procura de eficiência através da subcontratação tradicional, mas da delegação de funções fulcrais para a competitividade das empresas, como o marketing ou a inovação. Se lhe juntarmos a cada vez mais próxima substituição dos trabalhos mecanicistas por autómatos e sistemas baseados em inteligência artificial, é fácil visualizar o cenário de profunda transformação do formato empresarial defendido pela corrente de pensamento mais tecno-otimista.

Deixando de lado questões mais técnicas relativas às limitações desses formatos de criação de valor, é no âmbito emocional que se encontram as suas principais limitações.

O que diferencia as pessoas do resto das criaturas são as suas capacidades sociais, que lhes permite comunicar e colaborar para progredir conjuntamente. Somos seres sociais que precisam de agregar esforços para aumentar a sensação de segurança e, por essa via, a produtividade. Adicionalmente, a intermediação tecnológica dificilmente reproduzirá com fidelidade os matizes da interação física e preservará a riqueza da comunicação humana.

Por isso, as empresas melhor adaptadas aos desafios de cada momento serão aquelas que consigam o equilíbrio evolutivo entre as componentes digital e emocional de todas as suas atividades, na procura desse “termo médio” que, nesta sociedade progressivamente mais polarizada, parece conceptualmente mais escasso e difícil de alcançar.