“O rearmamento europeu constitui um factor político e económico a longo prazo que nos acompanhará até ao fim das nossas vidas”, afirmou Sérgio Sousa Pinto, ‘key speaker’ da Future Summit – uma organização da AEP, AIMMAP e CEIIA. “Isso significa que o rearmamento prosseguirá independentemente dos ciclos políticos que marcarão o futuro.” Nesse contexto, “o investimento global em defesa tenderá para os 5% do PIB”, alvitrou, colocando o financiamento no topo do intervalo que o ‘mercado’ considera estar entre os 3,5% e os 5%. Este assunto será discutido no próximo mês, quando a NATO organizar a sua conferência anual em Haia.
Para Sérgio Sousa Pinto, “o rearmamento impõe-se como um imperativo da nova estratégia global”, especialmente após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Mas há mais: “À utilização da máquina militar russa junta-se a incerteza em relação à máquina militar dos Estados Unidos”, que decorre do facto de o presidente Donald Trump ter proferido o inimaginável: o artigo 5º não está assegurado, o que significa que qualquer membro da NATO pode estar sozinho face a um ataque militar.
“Há um verdadeiro plano Marshall militar que visa a independência da Europa, libertando-a de dependências que se têm mostrado absolutamente ineficazes neste período pós-paz que se seguiu à Guerra Fria. A história não é assim: este período de paz foi excecional. Impedir a guerra pela dissuasão é, nesse quadro, a única opção estratégica que se afigura à Europa.”
Sérgio Sousa Pinto, um ‘enfant terrible’ do PS, afirmou ainda que “para alguns, parecerá excessivamente alarmista: a Rússia não se atreveria a tanto. É preciso lembrar a sabotagem de um gasoduto, a guerra híbrida e os planos de rearmamento da Rússia”, refletiu. Admitindo que “o principal elemento dissuasor é a combatividade do exército ucraniano, a Europa não tem nada que se lhe possa comparar”. E isso não pode ser, até porque há aqui “uma exigência existencial”.
Recordando que a Rússia “está a hipotecar a economia e o povo russo à guerra”, Sousa Pinto questionou que instrumentos a Rússia pretende usar para voltar a ser uma grande potência. “Reconstituir a Rússia dos czares e da URSS? Não sabemos, mas há uma ameaça existencial que paira sobre a Europa.” De qualquer forma, “40% do orçamento da Rússia é consagrado à guerra” e isso diz tudo sobre as opções da Europa. “Estima-se que a Rússia possa atacar a partir de 2028, talvez antes”, e é a esse desafio que a Europa – “que terá sempre a Rússia no lugar onde ela está” – deve saber responder. “A Europa precisa de produzir, com autonomia, os meios de que carece. Tem dinheiro para sustentar o financiamento, mas não possui uma base industrial para substituir os Estados Unidos.” É aí que surgem as oportunidades, sendo evidentemente necessário “vencer o gap tecnológico com os Estados Unidos”.
O desenvolvimento das infraestruturas militares exige “a existência de um mercado interno integrado e competitivo, que saiba fazer surgir novas empresas, tecnologia e inovação”. De algum modo, disse, isso poderá contribuir para o desenvolvimento: “A retração do comércio internacional pode ser compensada com contratos na Defesa.” “O Estado deve intervir o menos possível”, mas é necessário um “nível supra-nacional” que identifique necessidades e, principalmente, promova uma confluência tecnológica e técnica – mas também de procedimentos e até da mera utilização de material. “Não existe capacidade instalada para responder a semelhantes necessidades”, admitiu, mas é a resposta a esse desafio que as empresas (e as pessoas) esperam do poder político. “Não há um comando unificado na União Europeia, o que significa que a Rússia tem uma vantagem competitiva. A Ucrânia deverá integrar este mecanismo, tal como o Reino Unido, a Noruega e o Canadá.” Seja como for, concluiu, toda a resposta conjunta tem cinco anos para mostrar que é possível. Fica-se à espera de uma espécie de “mercado único de defesa”, que tem todas as características para “favorecer a indústria nacional”.
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