Muitos empresários e gestores com quem falamos na nossa atividade, podendo, atirar-se-iam à Administração Pública portuguesa com o mesmo afã que Elon Musk tem mostrado na condução da blitzkrieg que lançou contra as estruturas públicas norte-americanas, cortando despesa a torto e a direito, cegamente, desbaratando organizações, com consequências que estão longe de poderem ser avaliadas.

São recorrentes as queixas pelos tempos de resposta do Estado, que não se coadunam com os da economia, da inadequação dos serviços prestados às necessidades sentidas ou da multiplicação de instâncias que, muitas vezes, se acotovelam e se sobrepõem sem justificar, sequer, a existência. A inércia é a mais poderosa força do universo e retroceder numa criação pública é quase uma impossibilidade prática, especialmente quando implica estrutura.

Em Portugal não se defenderá a experiência de Musk em Washington, que é excessiva, intrinsecamente populista, caricatural, e que acaba por ser ideológica e dogmática, ainda que se apresente disfarçada com as vestes de um exercício de pragmatismo. Mas empresários e gestores aplaudiriam que se revisitassem processos, se olhasse de novo para regulamentos e, também, para organizações, que, em conjunto, espartilham a atividade. E que tudo fosse feito olhando do ponto de vista de quem é afetado e não olhado de cima, dos degraus construídos pelo Estado, que enviesam a perspetiva.

No fundo, que se recuperasse aquela velha ideia de serviço público, que existe para servir o cidadão, e não o contrário. Hoje é quase um sinal de rebeldia pensar que assim possa ser.