Sónia Alegre, analista da Freedom24 para a Região Ibérica, comenta o setor de defesa europeu que, considerado uma indústria de baixa margem, está a tornar-se uma área com potencial de crescimento significativo.
“Os valores europeus de defesa posicionam-se em zona de grande potencial de crescimento”, defende a analista da corretora Freedom24.
A Europa lançou o primeiro fundo negociado em bolsa centrado exclusivamente no sector europeu da defesa, perante o interesse dos investidores. O WisdomTree Europe Defence Ucits ETF foi cotado em Milão e Frankfurt a 11 de março deste ano e começará a ser negociado na Bolsa de Valores de Londres a 12 de março, noticiou o Financial Times.
A carteira do ETF inclui 20 fabricantes europeus de equipamento civil e militar, eletrónica de defesa e tecnologia espacial. O fundo não investe em empresas envolvidas no desenvolvimento de armas proibidas internacionalmente, como as munições de fragmentação e as minas antipessoais.
A Rheinmetall detém a maior quota do índice, representando 18% do fundo. Segue-se a italiana Leonardo (15%), a sueca Saab e a britânica BAE Systems (10% cada) e a francesa Thales (9%).
“Uma forte concentração de ativos num número limitado de empresas é normalmente um sinal de alerta para os fundos de temática restrita. No entanto, o WisdomTree atribui a elevada exposição da Rheinmetall ao facto de as suas ações terem quase duplicado de valor desde o início do ano” destaca Sónia Alegre.
Até agora, os ETF europeus existentes têm dado uma exposição maioritariamente global, nota o FT. Desde o início do ano, os investidores têm investido fortemente nos dois maiores ETF de defesa: VanEck Defence Ucits e HANetf Future of Defence. Ambos os fundos estão mais de 50% centrados em empresas norte-americanas.
Segundo a especialista da Freedom24 “os últimos dias, as revisões de preço alvo dos analistas têm atrasado o entusiasmo do investidor”.
“O sector de defesa, historicamente considerado uma indústria de baixa margem, tornou-se agora uma área com potencial de crescimento significativo”, defende.
“O aumento das despesas militares em toda a Europa impulsionou as empresas de defesa para níveis de avaliação comparáveis aos de outras indústrias de alta procura e crescimento, como tecnologia, aeroespacial e energia. Num múltiplo P/E prospetivo, a Rheinmetall, por exemplo, estaria agora posicionada entre as empresas líderes na indústria aeroespacial e de defesa, como a Airbus, ou no setor de infraestrutura e energia, como a Siemens ou a Schneider Electric”, avança Sónia Alegre.
A Freedom24 cita a Bloomberg que refere que a avaliação previsional (a prazo) de um conjunto de ações de empresas de defesa na Europa subiu acentuadamente nas últimas semanas e igualou o P/E (Price-to-Earnings Ratio) médio dos fabricantes de luxo europeus. A Bloomberg, cita dados da Goldman Sachs. As ações do fabricante alemão de tanques e munições Rheinmetall AG quase duplicaram de preço desde o início de 2025. Este facto levou a um aumento recorde da avaliação prevista das ações da empresa – que agora se situa entre o líder do mercado de luxo LVMH e a histórica empresa francesa Hermes, segundo a Bloomberg.
“A recuperação também afetou outros fabricantes europeus de armas, incluindo a Thales e a Leonardo. Os otimistas da bolsa baseiam o seu otimismo nas promessas do Governo alemão de gastar centenas de milhares de milhões de euros em defesa e no desejo dos líderes da UE de seguirem o exemplo. A 11 de março, as ações da Rheinmetall subiram mais 4%, depois de o Partido Verde alemão se ter declarado pronto a chegar a um acordo com o Governo sobre as despesas com a defesa, já esta semana”, destaca a Freedom24.
“Desde o início do ano, o preço alvo médio da Rheinmetall subiu mais de 60%, mas o objetivo para os próximos 12 meses indica um crescimento de apenas 5%. As contas anuais da empresa poderiam levar a ajustar previsões já que embora a empresa alcançou um histórico lucro líquido de 717 milhões de euros em 2024 – o que supõe um aumento anual de 36% -, o lucro por ação do terceiro trimestre ficou em 10,6 euros, longe dos 13 euros esperados pelos analistas. Apesar disso, o valor voltou a aumentar no dia de ontem e para este ano 2025, a empresa prevê aumentar as suas receitas entre 25% e 30% no âmbito do contexto de rearmamento europeu”, refere Sónia Alegre.
“As perspetivas de crescimento para estas empresas [do sector da defesa] são muito diferentes hoje do que eram há seis meses”, afirmou Graham Benke, gestor de fundos da Amati Global Investors, citado pela Bloomberg.
“Podem parecer caras neste momento, mas isso deve-se apenas ao facto de o mercado e Wall Street ainda não terem tido tempo para aumentar as previsões de lucros”, destaca a Freedom24.
“Alguns analistas acreditam que as avaliações já estão excessivamente inflacionadas, especialmente porque as ações da Rheinmetall subiram mais de 10 vezes desde fevereiro de 2022”, realça.
A Freedom cita ainda o Goldman Sachs e o JPMorgan Chase que defendem que o potencial de subida das ações do sector da defesa na Europa ainda não terminou.
“As empresas europeias do sector da defesa começam a parecer caras, mesmo quando comparadas com as empresas americanas, mas as expectativas de crescimento são tão elevadas que ainda parecem razoavelmente valorizadas”, segundo os analistas da Goldman Sachs. Os analistas do JPMorgan, liderados por Mislav Matejka, afirmaram que “continuariam otimistas em relação ao sector da defesa”, mesmo que a Ucrânia e a Rússia concluíssem um cessar-fogo.
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