Nos últimos dias, Adolescence, a nova série da Netflix, tem sido um verdadeiro fenómeno global. Não é difícil perceber o zeitgeist. A série capta, com uma crueza desconcertante, o universo emocional dos adolescentes de hoje: a solidão algorítmica, o peso da autoimagem, os silêncios densos e os gritos mudos que povoam as relações familiares.

Como professora de gestão, observo estas dinâmicas com interesse profissional. Como mãe de um filho de 15 anos, vivo-as com o coração nas mãos. Ser mãe de um adolescente em 2025 é, muitas vezes, um exercício de escuta ativa ao vazio: interpretar silêncios, decifrar mudanças de humor abruptas, não levar a peito respostas curtas ou reações distantes.

É aceitar que o nosso papel mudou — não deixámos de ser fundamentais, mas deixámos de ser o centro.

É difícil. Muito mais do que alguma vez imaginei. Há dias em que o silêncio pesa mais do que uma qualquer discussão. Outros em que o humor muda num segundo e não sei o que fiz — ou deixei de fazer. Há momentos em que tento conversar e recebo apenas um encolher de ombros. E há aqueles olhares que me dizem “preciso de ti”, mesmo quando ele tenta mostrar exatamente o contrário.

Vivemos num tempo em que os pais têm medo de errar e os filhos têm medo de falhar. Os adolescentes estão expostos a uma pressão invisível, constante e implacável – likes, comparações, expectativas.

Nós, adultos, crescemos com fronteiras mais claras entre o público e o privado, entre a escola e o lar, entre o eu e o outro. Eles não. Tudo é híbrido, tudo é imediato, tudo é visível. A adolescência já era, por natureza, um terreno instável. Hoje, parece um campo emocional minado.

Mas há caminhos. O primeiro é o da presença sem sufoco. Estarmos disponíveis sem invadir. O segundo é o da escuta sem julgamento. Ouvir mesmo o que não é dito. Perguntar menos “o que fizeste hoje?” e mais “como te sentiste hoje?”. E talvez o mais difícil: aceitar que, por vezes, não saberemos. Que há dores que não nos contam e medos que não controlamos.

Como gestora, acredito na importância da empatia na liderança. Como mãe, aprendo todos os dias que liderar uma família não é diferente. Não se trata de controlar, mas de guiar. Não há manual. Mas talvez haja gestos que ajudam. Estar presente, mesmo quando nos afastam. Mostrar que, mesmo quando falham, continuamos aqui.

A série Adolescence não nos dá respostas, mas dá-nos um espelho. E talvez seja isso o mais importante: ver refletido o que muitas vezes não conseguimos dizer. E, com sorte, começar a falar a partir daí.