A publicação pela Comissão Europeia do Livro Branco sobre o futuro da Europa é um excelente convite à reflexão política num momento atribulado, mas absolutamente determinante, da história da UE. Estamos ainda no rescaldo do referendo do Brexit e das eleições nos EUA e já sofremos de ansiedade pelos decisivos atos eleitorais que se aproximam na Holanda, em França e na Alemanha.
Ao contrário do passado recente em que o debate sobre a UE se polarizava entre federalistas e não federalistas, com a fuga do eleitorado do establishment político, assistimos hoje a um choque entre duas visões mais antagónicas: por um lado, temos o centro político, de esquerda e de direita, que considera que os desafios globais que enfrentamos requerem integração supranacional a nível Europeu (entre estes existem os mais e os menos entusiastas do federalismo, porém ninguém põe em causa o mercado único europeu e as suas quatro liberdades fundamentais); e, por outro lado, temos os crescentes extremos políticos, de esquerda e de direita, que consideram que está na hora de voltar para trás na integração, devolvendo soberania aos Estados.
Se procurarmos analisar o perfil de cada um dos apoiantes destas visões antagónicas facilmente chegaremos à conclusão que existe não só um conflito de opiniões, mas também um conflito de gerações. De um lado, temos a Geração X e os Millennials (pessoas com idades compreendidas entre 18 e os 52 anos) e, do outro lado, temos os Silents e os Baby Boomers (pessoas com mais de 52 anos).
Segundo as estatísticas do referendo do Brexit, entre os jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, apenas 19% votaram a favor da saída da UE. Já no que respeita aos pensionistas, 59% votaram a favor da saída. Por uma questão de idade, os Baby Boomers e os Silents tiveram mais dificuldade em adaptar-se à nova realidade de um mundo sem fronteiras, da internet e do digital, e foram as principais vítimas do desemprego estrutural provocado pela liberalização do comércio e pela deslocalização de empresas.
Pelos factos enunciados, arriscaria a dizer que, por essa Europa fora, uma maioria significativa dos apoiantes dos partidos e movimentos antieuropeus e antiglobalização é composta por Baby Boomers e Silents. Só pode querer voltar para trás à la Donald Trump quem já viveu nessa realidade passada! A maioria das pessoas da Geração X e praticamente a totalidade dos Millennials viveram e/ou cresceram em tempos de globalização e de União Europeia, e querem manter a liberdade de poder estudar, trabalhar, viajar e fazer negócios numa Europa unida.
O dilema deste conflito de gerações reside no facto de uma maioria dos eleitores com mais idade, pelo seu colossal peso eleitoral proveniente da envelhecida pirâmide demográfica europeia, terem o poder de determinar o fim do projeto europeu contra a vontade das gerações mais novas que, em grande maioria, querem viver na União Europeia e num mundo globalizado.
Vai ser curioso assistir a um período não tão distante em que os Baby Boomers, enquanto pensionistas, representarão simultaneamente a grande fatia dos eleitores e dos beneficiários dos recursos públicos. Será um bom momento para políticos iluminados como David Cameron convocarem referendos para cortar o valor das pensões.