Terramotos, férias dos políticos, pontais, pontinhas e pontadas, mais candidatos presidenciais e o diabo a quatro sob a forma de um fogo que, ainda assim, não incendiou a vontade de descanso do líder da Madeira mais dos seus mais que tudo. Chegámos a um ponto em que já não percebemos nada de nada, a moral tornou-se uma batata a murro.
Dá mesmo a ideia de que se está a aproximar o instante em que o capitalismo dirá à democracia: minha amiga, sei que fomos fiéis amigos, sei que fomos amantes e tivemos belas noites, sei que caminhámos juntos, mas chegou a hora de saíres da minha casa, já não és necessária. Porque repara, estou cansado. Já não temos que esconder que dormimos em camas separadas, deixa ficar a memória do que fomos um para o outro, do que nos amparámos. Já não preciso de ti. Mas não quero que morras. Podes ter o teu voto, não te quero tirar isso, mas não me venhas com mais nada que não seja um encontro simpático pelo Natal, um lanchinho vá lá. Mas vai, democracia. Faz-te à estrada e toma o cartão. Está tudo tratado. Não tens que te preocupar pois depositarei o que precisas para morrer em dignidade. Mas sem ondas, está bem? Sem histerismos bacocos.
Talvez estes estranhos dias sejam um amuo dos deuses que manipulam o tempo. Ou talvez uma vontade de a chuva ser lembrada – um bocadinho como o Sol quando aparece de Inverno. Não sabemos o que se passa, será isso? A chuva por vaidade ou maus fígados a esticar a cabeça fora da sua estação ou, por bizarro que pareça, um baile de máscaras em que Primavera, Outono, Verão e Inverno já não sabem bem quem são?
É uma crónica melancólica, despropositadamente melancólica para um final de agosto. A melancolia condena-nos a nunca conseguir abrir os braços por completo, mas protege-nos de nunca acharmos que a beleza de um gesto durará para sempre. Só um melancólico vê as coisas boas na perspetiva de que um dia deixam de ser tão boas assim, só ele tem com a tristeza uma relação cúmplice e constante em troca de nunca ser tomado por completo por ela. Um abraço de um amigo no momento certo, o estar lá quando outros viram as costas, uma declaração de amor ou um convite que prova confiança faz soltar sorrisos e espantos de alma a um melancólico. Porém, no instante a seguir, ele relativizará a beleza do fogo de artifício e fará contas ao inverno que está para vir.