O verão e as férias deveriam ser um período de relaxamento e de preparação para o ano de trabalho que se avizinha mas, infelizmente, para a grande maioria dos portugueses este é um período de preocupações perante o que está para acontecer. Há quem decida não ligar à comunicação social. Dizem-se em descanso, mas a verdade é que a avalancha de informação negativa continua a sobrepor-se às informações que fazem alargar sorrisos e, nessa perspetiva, importa perceber o que se vai passar para prevenir e não apenas reagir.

A guerra na Ucrânia e a consequente instabilidade geopolítica, a crise nos abastecimentos, a subida do preço da energia, a inflação galopante e remédios que deixam o doente em coma, como seja a subida das taxas de juro, são as preocupações já conhecidas. O que ainda não se sabe é a duração desta situação de “tempestade perfeita”.

O Banco Central Europeu teve de dar a mão à palmatória e duplicou a subida das taxas diretoras relativamente ao que o consenso esperava e, neste outono, irá repetir a dose. Portugal encontra-se, como é de esperar, numa situação mais preocupante do que os congéneres europeus. A razão está na dívida soberana, das empresas e das famílias, e de modelos económicos adotados no país diferentes de outros países europeus.

As famílias nacionais estão mais expostas do que o resto da Europa, porque os créditos hipotecários são maioritariamente de taxa indexada. Por outro lado, a taxa de poupança das famílias cresceu durante o período da pandemia, mas resultou em consumos exacerbados nos últimos meses.

Ainda assim, a expectativa de crescimento do Produto Interno é elevada, tendo em conta o ano de comparação e o crescimento no segundo trimestre do ano, que deixou satisfeitos os políticos. Mas isso será “sol de pouca dura” e irá ver-se no último trimestre quando o efeito do turismo se diluir.

Nos últimos dias, foi divulgado um trabalho da agência de rating Moody’s que é deveras preocupante, pois recoloca num cenário credível o risco de estagflação para o país, ou seja, estagnação da atividade económica, com desemprego persistente e inflação elevada a tornar-se permanente.

O país tem o pior nível de inflação dos últimos 40 anos e, tendo em conta um crescimento económico mais fraco e forte dependência dos combustíveis importados, a par, refere, de capacidades políticas limitadas (veja-se recentemente a ameaça da Endesa em aumentar astronomicamente o valor da energia), tornam Portugal altamente vulnerável.

Também não são boas notícias aquelas que tratam do impacto da seca. Há concelhos a declararem a impossibilidade de fornecimento de água à rede pública a partir de setembro, caso não chova, uma variável que os políticos ainda não podem contrariar.

No que respeita à questão climática, o país está, uma vez mais, à espera do que Bruxelas irá decidir e do que Espanha irá fazer. As informações do país vizinho é que se prepara para determinar restrições no uso de energia depois do verão de 2023, enquanto a nível de água encetaram objetivos de reduzida eficácia.

Ora, não somos só nós que não antecipamos a escassez da água com soluções de longo prazo, ou a subida do preço da energia com a criação de fontes alternativas, toda a Europa parece estar no marasmo. Será que esta potencial crise é do interesse dos políticos europeus?