A energia foi durante séculos definida como uma commodity, isto é, como um produto de qualidades e características uniformes, sem distinção na produção ou origem, um bem essencial de procura elástica com um único elemento negociável – o preço.

Naturalmente que o preço da energia impacta decisivamente nos orçamentos das famílias e empresas, este facto é indesmentível e será o principal elemento diferenciador entre as propostas de fornecimento que os consumidores analisam todos os dias.

Contudo, numa altura em que a sociedade é cada vez mais educada no que toca ao consumo energético, existem outros elementos diferenciadores no momento da escolha do fornecimento de energia. Estes prendem-se com a crescente liberalização do mercado, mas também com a urgência da transição energética e os significativos desenvolvimentos tecnológicos no sector.

Para a perceção de valor junto do consumidor, a relação comercial (a qual difere de empresa para empresa) tem influência na decisão, a origem certificada da energia tem impacto na escolha, as características das tarifas oferecidas (fixa, variável, prazo de fidelização) contam, os serviços incluídos na proposta de energia são analisados.

A escolha do fornecedor de energia deixou de ser só feita com base numa análise quantitativa, para ter uma componente, não menosprezável, de análise qualitativa.

Um bom exemplo desta alteração de paradigma, é a dificuldade que os vários simuladores existentes (dos mais aos menos oficiais) têm em hierarquizar diferentes propostas, quando por vezes mesmo considerando ceteris paribus todas a variáveis com exceção do preço, apresentam resultados inconsistentes entre simuladores. A comparação de tarifas não é tarefa fácil, bem sei, mas estas diferenças acontecem porque estão muitas vezes a comparar o incomparável.

A comunicação com o “cliente” revela-se também um elemento decisivo. Quando, por exemplo, sabemos que a empresa que nos fornece energia tem preocupações ambientais em toda a sua cadeia de valor, ou quando vemos que essa empresa tem ações de solidariedade com os mais desfavorecidos, ficamos mais convencidos e orgulhosos da nossa escolha.

Os próximos anos serão um grande desafio para todas as empresas do sector, saber humanizar e diferenciar as suas marcas será decisivo para o desenvolvimento dos seus negócios. A exigência aumentou, os consumidores querem, hoje, ter a sua energia fornecida por uma empresa com reputação intacta, com os valores corretos, e até com lideranças inspiradoras.

Bem tem estado a ERSE que com formação e comunicação específica tenta desenvolver a literacia energética dos consumidores, alertando-os para as diferentes opções disponíveis no mercado, pois quando no “jogo da energia” entra a transição energética, e até a transição digital, mais do que comparar preços é fundamental comparar marcas, soluções e serviços, porque assim vai ser o mercado de energia do futuro.