Parece que só há salvação fora da ideologia (1). E na escrita dos comentadores de direita só há ideologia na «nacionalização» da TAP. Deixar falir, entregar, logo após a salvação pelos dinheiros dos contribuintes, ao capital privado, alienar por tuta e meia à Lufthansa, é ciência económica pura, da que tem a chancela Nova SBE. A Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, que para lá do nome e acrónimo em inglês faz uma vigilância activa às excrescências ideológicas dos seus professores… (2). Para toda uma série de comentadores só fora da caixa das ideologias é que se pode ajudar a encontrar uma solução menos má para a TAP. Mas (produtores e divulgadores de ideologia) não explicam como se faz tal coisa… enquanto navegam na ilusão tecnocrática de que são apenas os outros – os da nacionalização e da TAP, empresa pública – os únicos que respondem com base em opções ideológicas.

Como não podia deixar de acontecer, lá veio António Barreto (Público 05JUL20) demonstrar que não há ninguém – uma aflição, um desespero, uma tragédia – para salvar o mundo e o país… e claro, a TAP! Nada a fazer… porque «Haverá certamente alguém, que um dia, fará a história verdadeira da TAP, mas será seguramente tarde demais!» Valha-nos Deus.

Não é possível olhar para o futuro da TAP na consideração dos erros e negociatas da política de direita e dos gestores que governos do PS, PSD e CDS nomearam para a gestão da TAP. Ou das malfeitorias da sua privatização «manhosa» (classificação de A. Barreto) pelo Governo PSD/CDS/P. Coelho e P. Portas e já agora da nacionalização «manhosa» que tinha sido feita pelo Governo anterior do PS. O que não significa desvalorizá-los, não os ter em conta ou desresponsabilizar quem os levou a cabo.

Mas a TAP é uma das mais importantes empresas nacionais. O seu carácter estratégico para o país decorre da sua actividade, da sua dimensão, do seu impacto directo e indirecto no plano económico e social, do seu potencial e das funções de soberania que assegura. É a principal empresa exportadora do país, paga mais de 520 milhões de euros de salários e assegura importantes receitas da Segurança Social e fiscais. A que se somam cerca de 5 mil trabalhadores das restantes empresas do Grupo TAP (SPDH, Portugália, Cateringpor) e toda a actividade económica que funciona a montante e a jusante da companhia.

A defesa da TAP pública, enquanto companhia aérea de bandeira, capaz de responder aos interesses do país, é uma exigência inseparável de uma perspectiva de desenvolvimento nacional da qual o povo português não pode prescindir. Se os custos inerentes à viabilização e desenvolvimento da empresa são consideráveis, os prejuízos para o país de uma eventual destruição da TAP seriam incomparavelmente maiores.

 

(1) Esta questão da «ideologia» conspurcar as soluções de esquerda é sucessivamente reiterada pela gente de direita. O último acesso agudo foi em 2019 aquando do debate da Lei de Bases da Saúde, a questão das PPP.
(2) Ver artigo de Luís Aguiar-Conraria, «Estar à altura do prestígio que se tem» (Expresso, 04JUL20), em que, a partir de artigo da Sábado, refere as críticas de catedráticos dessa Faculdade a artigos de opinião da Prof.ª Suzana Peralta, no Público, porque afectavam a «marca» Nova SBE!