Quero partilhar convosco um conjunto de reflexões que me ocorreram fruto da conjugação da nossa gestão de um subsistema mutualista de saúde, o SAMS Quadros, por um lado, e da leitura da notável entrevista concedida ao jornal Público pelo professor Henrique Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e presidente do Conselho Nacional de Saúde, e do livro “Prevenir doenças e conservar a saúde” (Fundação Francisco Manuel dos Santos) do presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Francisco George, por outro.

Nalguns países, nomeadamente no Reino Unido, a expectativa de evolução da esperança de vida está a desacelerar, o que faz com que se preveja que a próxima geração britânica viva menos tempo que a actual. A principal causa disso? A obesidade.

Hoje em dia, 86% das mortes prematuras em Portugal, todas as antes dos 70 anos de idade, e de incapacidades de diversa ordem, decorrem de quatro factores que podem ser evitáveis.

A saber, o primeiro é o sedentarismo, o que implica no futuro um programa e uma atitude de promoção do exercício físico. O segundo é o consumo excessivo de álcool e substâncias psicotrópicas. O terceiro factor abarca os erros alimentares, daí a referência anterior à obesidade, problema que em Portugal começa desde tenra idade. Por último, mas não em último, o quarto factor é a exposição, activa e passiva, ao fumo do tabaco.

São conhecidas as restrições orçamentais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o seu imobilismo, em parte derivado de regras de gestão em muitos aspectos ultrapassadas e datadas. A conjugação destes dois factores não auguram que o SNS, por si só, consiga educar para a mudança. Ora, isto é um desafio enorme para Portugal, cada vez mais confrontado com um envelhecimento galopante.

Felizmente, o SNS tem parceiros potenciais que poderão ajudar. Os subsistemas de saúde e demais participantes na cadeia de valor – farmácias, ordens profissionais, sindicatos de trabalhadores de saúde, comunicação social, associações de pais – têm capacidade e disponibilidade para colaborar num trabalho educativo e para mostrar qual o caminho a seguir no futuro. Tudo isto, nos quatro eixos acima referidos, usando uma panóplia de instrumentos, promovendo, incentivando e premiando comportamentos, em suma, educando. Sem tibiezas. Mostrando o caminho para que os decisores políticos e a sociedade civil não ignorem a praga evitável das mortes prematuras.

Passámos 30 anos a assistir a uma autêntica guerra civil nas estradas portuguesas, até que decidimos agir de forma estruturada para mitigar os sinistros rodoviários. Está na altura de liderarmos pelo exemplo nesta nova frente de acção. Ou a próxima geração viverá menos que a actual.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.