É mais ou menos consensual, na literatura académica, que o sistema financeiro e o crescimento económico se afetam mutuamente.
Hoje, o que aqui se traz é a perspetiva causal de que o sistema financeiro, o seu desenvolvimento e eficiência de funcionamento afeta o crescimento económico, focando-se a análise numa das várias abordagens possíveis, a saber, a abordagem funcional. A ideia base é que, se o sistema financeiro cumprir todas as funções que a ele se atribuem, devemos esperar uma relação positiva com o crescimento económico, pois permitirá apoiar as empresas com melhores projetos de investimento, tecnologicamente mais evoluídas e com garantias de rentabilidade mais elevadas.
Neste contexto, uma das funções primordiais do sistema financeiro, é o exercício da intermediação financeira, agilizando a transferência de fundos entre os agentes económicos que deles têm necessidade, e os agentes económicos superavitários, permitindo, desta forma, que os primeiros concretizem os seus investimentos e os segundos rentabilizem as suas poupanças. O exercício da transferência de fundos encontra-se ancorado na capacidade de o sistema transformar prazos e mitigar o risco de liquidez.
A existência de liquidez nos mercados, permite aliviar as preocupações de quem poupa, e que tem uma relutância natural em passar a gestão dos seus recursos para mãos de outros, por períodos longos de tempo, como é o caso de investimentos de longo prazo. Neste quadro, a existência de mercados de capitais com elevada liquidez, que permitam a recuperação quase que imediata das poupanças, se este for o desejo dos agentes económicos, e a existência de intermediários financeiros capazes de, com eficiência, transformar maturidades, e ainda assim disponibilizar o resgate dos depósitos quando solicitados, são dois aspetos fundamentais para que seja efetivo o financiamento de projetos inovadores, de forte valor acrescentado e de retorno esperado elevado no longo prazo, mas que implicam investimentos significativos no curto prazo.
O processo de mobilização das poupanças, outra das funções dos sistemas financeiros, é indissociável da diversificação de risco e da garantia de existência de liquidez, podendo também melhorar a afetação de recursos na economia. A mobilização da poupança surge associada à criação de alternativas de investimento, que se materializam num conjunto de instrumentos financeiros, os quais permitem adequar as necessidades de financiamento das empresas aos interesses dos investidores. Esta capacidade de adequação é fundamental no processo de financiamento da economia pelos mercados financeiros.
Uma terceira função dos mercados financeiros é a sua capacidade em reduzir os custos de informação e os custos de transação. Quer os intermediários financeiros, que incorrem em custos mais reduzidos na aquisição e processamento de informação, e que podem disponibilizá-la aos investidores, permitindo assim que estes identifiquem as melhores oportunidades de negócio, quer os mercados de capitais, que disseminam informação acerca da situação económica e financeira das empresas, a qual se torna visível, quando se observa a evolução do preço de mercado, são duas componentes do mercado que assumem um papel decisivo na redução dos custos de informação.
Mas os mercados permitem ainda reduzir os custos de transação, com influência positiva na liquidez. A liquidez implica uma contínua mudança de mãos dos ativos financeiros e esta é facilitada se os custos deste processo forem baixos. Baixos custos de transação compatibilizam investimentos de longo prazo das empresas com aplicações de curto prazo dos aforradores.
Nesta perspetiva, o desenvolvimento do sistema financeiro como um todo, isto é, das instituições de crédito e dos mercados acionistas e obrigacionistas, proporciona uma redução dos custos de informação e de transação e facilita um fluxo eficiente do capital para as utilizações mais produtivas, promovendo, deste modo, o crescimento económico.
Finalmente, uma quarta função do sistema financeiro surge, precisamente, na sequência do financiamento das empresas e liga-se à necessidade da monitorização ex-post destes financiamentos, em particular, à necessidade de assegurar a remuneração e o reembolso do capital aos credores, o que é, tradicionalmente, realizado pela força dos contratos, pelos bancos e pelos mercados de capitais.
Em suma, o sistema financeiro desempenha um papel fulcral no financiamento da atividade económica, sendo redutoras as posições que o colocam como um mero corolário do desenvolvimento económico e como tendo um papel puramente instrumental na economia. A criação de condições para o cumprimento cabal das suas funções, trará inequivocamente vantagens ao crescimento económico.