Alguns chamam à atual fase, começada em 2008, Slowbalization para caracterizar a travagem da globalização.
A primeira globalização de 1870-1914 foi interrompida com a Primeira Guerra Mundial e depois tivemos um crescimento notável do comércio internacional após a Segunda Guerra Mundial, com o comércio internacional de bens e serviços a crescer muito rapidamente, tendo as exportações de mercadorias e de serviços atingido em 2021 valores respetivamente de 22,2 triliões de dólares e de cinco triliões de dólares.
Por outro lado, o comércio de bens intermédios no seio das Cadeias de Valor Global (CVG), uma nova e pujante realidade, cresceu muito rapidamente nos anos 90 do século passado, mas estagnou após a crise financeira mundial de 2008. Todos os países estavam a participar neste comércio das CVG, embora de forma desigual.
No período 2010-2020, os países que mais cresceram no comércio das CVG foram com taxas de crescimento expressas em média anual: Vietname (13,3%), Camboja (11,1%), Irlanda (8,1%), Lituânia (6,5%), Roménia (6,1%), Luxemburgo (5,7%), Polónia (5,2%), China (5,0%), Bulgária (4,8%), Costa Rica (4,1%), Turquia (3,5%), Marrocos (3,3%) e México (3,1%).
De notar a espetacular progressão do Vietname e Camboja como fornecedores de bens intermédios, comparados com os tradicionais como a China, Marrocos e México. Tal tem a ver com a tentativa dos EUA em desacoplar da China, reforçando laços com o Vietname e o Camboja
Curiosamente, as barreiras e tarifas aplicadas aos produtos finais eram nos países do G20 70 a 75% maiores do que as aplicadas aos bens intermédios das CVG. Trump inverteu isto em 2018, lançando tarifas sobre 82% dos bens intermédios chineses, enquanto só 28% dos bens de consumo final foram taxados. Isto explica porque a importância da China nas CVG diminuiu, aumentando a do Vietname e Camboja. No fundo, Trump fez desviar o comércio de bens intermédios nas CVG da China para esses países.
Nos EUA, a Administração Biden lançou a IRA-Inflation Reduction Act, poderosa iniciativa de política industrial, subsidiando, tal como os chineses, as suas indústrias críticas para a descarbonização. O Presidente francês Macron pedia há muito que a União Europeia enveredasse pelo mesmo tipo de política industrial. Será o Relatório Draghi a resposta europeia às políticas industriais chinesa e americana? Veremos em próximo artigo.