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Alexandre Ruas: “Smartphones tornaram-se parte da nossa imagem pessoal”

Alexandre Ruas, da Altran, diz que há desafios na cobertura da rede 5G, pelas frequências e número de dispositivos que deverão estar ligados.
28 Abril 2019, 11h00

Alexandre Ruas, diretor de Telecomunicações e Media da Altran Portugal, não tem dúvidas de que os telemóveis deixaram de ser só uma extensão sem barreiras físicas dos telefones fixos. Em entrevista ao Jornal Económico, lembra que a sua evolução se espelha na média diária de uso (cinco horas), “enquanto a conversação está abaixo dos cinco minutos por utilizador”. “Os smartphones, em conjunto com as customizações aplicacionais e os sistemas operativos, tornaram-se parte da nossa imagem pessoal, capaz de espelhar personalidades, estilos e preferências”, realça.

Defende que uma análise ROI tradicional não é 100% aplicável no 5G. Porquê?

Quando estamos face a modelos de negócio disruptivos, a análise de investimento e retorno tende a afastar-se dos modelos tradicionais. Os modelos de análise atuais, tanto de ROI como de Go-To-Market, assentam principalmente no parque de clientes, nomeadamente convergente, stand alone, corporate, PME ou SOHO e na sua segmentação e hábitos de consumo, digital ou tradicional, por exemplo. O desafio, com a chegada do 5G, é o de encontrar Use Cases (UCs) rentáveis e com isso novas fontes de receita que justifiquem os investimentos caso a caso. Trata-se de um exercício mais complexo, novo e de descoberta. É também esta procura de UCs que impulsionará a economia mencionada acima. Por outro lado, os operadores móveis deixarão de fazer análises de forma individual e de dentro para fora, e passarão a desenvolver essa análise com parceiros estratégicos. Isto porque têm de procurar conhecimento em empresas com maior lastro multissetorial.

 A quinta geração significa uma evolução do 4G ou uma total disrupção tecnológica?

Eu levaria a discussão para uma nova perspetiva. A verdadeira disrupção não é apenas a da tecnologia como um fim, sendo essa inclusive a dimensão menos relevante com a chegada e comercialização do 5G. Do ponto de vista tecnológico as anteriores evoluções, 2G, 3G e 4G, também foram disruptivas para o mercado pessoal, dando inicialmente resposta às necessidades de comunicações por voz e texto, depois à massificação da internet e, por último, ao crescente volume de dados e disponibilidade de serviço. A grande disrupção expectável com a chegada do 5G será sentida na indústria, saúde, transportes, energia, logística, retalho entre outros, no contributo para a sua evolução digital e na economia que daí surgirá. Segundo o estudo da IHS Markit, a nova economia suportada pelo 5G representará 12 triliões de dólares. O 5G irá transformar o mundo como hoje o conhecemos enquanto alicerce de desenvolvimento de conceitos como Autonomous Things, IoT, Inteligência Artificial, Real Time Services ou Realidade Aumentada/Virtual. Neste sentido, sim, representará uma disrupção e o início de uma nova era tecnológica.

Acha que até ao final do ano todas as fabricantes terão telemóveis com esta rede?

Independentemente do período temporal, todas as grandes marcas fabricantes de telemóveis têm os terminais 5G como objetivo de curto prazo. Samsung, Huawei, OnePlus e Apple são algumas das marcas que prometem ter novidades em 2019. Já este mês a Motorola, com uma versão do Moto Z3, anunciou ter sido a primeira fabricante a realizar uma chamada sobre rede 5G, utilizando a infraestrutura da Verizon nos Estados Unidos. Apesar das grandes expectativas por parte dos utilizadores nos novos modelos, é bom relembrar que os terminais 5G serão muito mais do que telemóveis. Todos os dispositivos do ecossistema serão terminais e terão capacidade de comunicação 5G. Isto levanta o tema da cobertura, que pelas frequências utilizadas e pelo número de dispositivos expectáveis ligados, terá também desafios muito diferentes dos das redes 2G, 3G ou 4G. Para simplificar, podemos comparar o 5G a redes Wi-Fi futuristas, de alta performance e baixa latência onde todos os dispositivos se poderão ligar.

O que é que a indústria móvel tem procurado ao nível de soluções tecnológicas?

No Mobile World Congress ficaram bem patentes duas grandes tendências: a procura de formas de apresentação inovadora de vídeo e imagem, com o recurso a ecrãs dobráveis, a realidade aumentada ou virtual e o 5G. Se uma solução se foca na experiência de disponibilização de conteúdos, a outra foca-se na velocidade e largura de banda. De recordar ainda que 2018 ficou marcado pelo aumento do aproveitamento do ecrã através do fim das margens nos principais smartphones notch. Tendo o mercado já assumido esta tendência, assistimos agora a uma luta no número de lentes e megapixels das câmaras. O vídeo e a fotografia continua com uma relevância crescente na hora de escolher o terminal, em particular quando as principais redes sociais continuam a apostar nas Stories, como é o caso do Instagram, Youtube ou Netflix. A verdade é que as fabricantes de telemóveis cada vez mais estão a desenvolver a sua tecnologia tendo em vista as necessidades dos utilizadores, tendências de utilização e serviços disponibilizados, sobretudo pelos OTT, e cada vez menos focados nas tradicionais comunicações por voz e mensagens texto.

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