Continuamos no mesmo registo de há duas semanas atrás. Só o tema mudou. Da dívida pública para o roubo das armas.

Para quem duvida de tudo, o caso de Tancos é um campo de experimentação magnífico. Os guardas do paiol duvidam do que verdadeiramente guardavam. Os chefes dos guardas duvidam que os guardas estivessem a guardar. O chefe do Exército duvida que os guardas e os seus chefes estivessem a guardar o que se diz que estava guardado.

O ministro duvida que seja ministro e se alguma coisa foi realmente roubada. Os partidos da oposição e respectivos deputados duvidam da sua natureza e se são verdadeiramente da oposição para convocarem uma Comissão de Inquérito. Os outros deputados, os que apoiam o Governo, duvidam se são da situação e se devem apoiar o ministro.

O primeiro-ministro duvida de si próprio e se escolheu de facto um ministro da Defesa. O Presidente da República duvida do seu papel e se já terá dito o que disse esta semana, ou seja, investigue-se. Os jornais duvidam que o tema seja velho e repetem as capas de há um ano.

Todos inspirados em Sócrates – o da antiga Grécia: só sei que nada sei! E nós em Pirro de Eleia: “pois eu nem isso sei!”.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.