Sofia Guedes Vaz, autora do ensaio “Ambiente em Portugal”, publicado pela FFMS, não acredita no crescimento ilimitado num sistema finito. Elogia os discursos de Greta Thunberg por porem a nu “a hipocrisia entre o que dizemos e o que fazemos”. E lembra que “nós podemos dizer pouco, mas os jovens podem dizer muito porque ainda não estão aprisionados pela realidade”.
Três perguntas a uma investigadora que tem colaborado com organismos públicos e privados, nacionais e internacionais, na área do ambiente e que tem colocado em diálogo a filosofia e a engenharia do ambiente. Problematizar para depois resolver problemas? Acima de tudo pensar e comunicar temas ambientais, porque a “esperança é contagiosa”.
Como vê os recentes protestos de jovens em todo o mundhábitos eo sobre a inação dos decisores políticos e empresariais relativamente às alterações climáticas?
De 25 de abril até 10 de Maio de 2019 fui de Lisboa ao Porto a pé, um projecto que intitulei 555 mil passos a pensar ambiente. O principal objectivo desta caminhada foi prestar homenagem a Greta Thunberg, aos jovens, aos meus filhos. Queria também sensibilizar e inspirar as pessoas a pensarem mais ambiente e por isso todos os dias falei no noticiário da manhã na TSF sobre sustentabilidade, sobre Greta, sobre o Portugal que fui encontrando.
Ou seja, sou grande fã de Greta e de todos os miúdos que nos estão a acordar do torpor confortável das nossas vidas consumistas. Os discursos de Greta apontam para a hipocrisia entre o que dizemos e o que fazemos. Greta diz que o rei vai nu e nós não tínhamos até agora ninguém que o dissesse tão eloquentemente. As alterações climáticas estão intrinsecamente ligadas ao nosso sistema energético que é o motor do nosso sistema económico que é a base do nosso sistema político. Não podemos continuar a crescer ilimitadamente num sistema finito.
Nós podemos dizer pouco, mas os jovens podem dizer muito porque ainda não estão aprisionados pela realidade. Os miúdos acreditam que o sistema pode mudar e essa é a premissa base para que mude. A próxima greve será a 27 de setembro de 2019, e para esta, os jovens estão a tentar conquistar os adultos para que se transforme numa greve geral, porque como dizem nos seus cartazes – não há planeta B.
A forma como consumimos tem impacto no ambiente. Os cidadãos dos países ricos estarão dispostos a adaptar os seus estilos de vida para reduzir esse impacto? Como podem fazê-lo?
Todos nós como consumidores contribuímos para problemas ambientais como as alterações climáticas, a poluição do ar e da água, a produção de resíduos, o uso do solo e de recursos naturais, ameaças à biodiversidade. A minha proposta é olhar para o consumo como uma questão ética. Muito do nosso consumo é determinado por factores fora do nosso controlo. São as lojas ao nosso alcance, o dinheiro que temos disponível, o ordenamento de território, a existência de infra-estruturas (tais como transportes públicos).
Mas há uma fatia grande do consumo que é intencional e nesse podemos escolher produtos ou serviços éticos porque respeitam os direitos humanos, ou os direitos dos animais ou o respeito pela natureza. Esse é um consumo positivo: comércio justo, sem crueldade para com animais, produtos reciclados ou recicláveis ou re-utilizáveis ou produzidos localmente.
Há também um consumo negativo, ou seja, não consumir determinados produtos, ou fazer boicotes a marcas, produtos ou serviços. Noutra vertente podemos considerar o consumo como um problema de injustiça intra e inter-geracional. A nossa imaginação moral é limitada no espaço e no tempo. Assumir que as nossas condutas afectam as vidas do Outro distante em espaço (outros países) e em tempo (gerações futuras) pode ser inspirador.
Não quero dar exemplos, a ética do consumidor assenta numa reflexão individual sobre a responsabilidade das nossas escolhas pessoais. Implica um investimento pessoal em pensarmos como é que o nosso estilo de vida afecta os outros, o planeta, a natureza, as gerações futuras.
O que pensam os portugueses sobre a biodiversidade e o que sabem sobre o tema?
No dia 6 de maio de 2019 foi divulgado um relatório pela Plataforma Intergovernamental de Ciência-Política sobre Biodiversidade e Serviços do Ecossistema referindo que há um milhão de espécies em risco de extinção. As ameaças são muitas e para parar esta curva ascendente de ameaças à biodiversidade temos que mudar de rumo na forma como interagimos com o planeta.
No entanto, com os dados do último Eurobarómetro da União Europeia também publicados em 2019, só 51% dos portugueses terão compreendido esta notícia, sabendo o que é a biodiversidade. Já 23% dos portugueses identificaram que haveria um problema, porque já ouviram falar da biodiversidade, mas não sabendo o que é, poderão ter ficado um pouco confusos. Para 25% dos portugueses esta notícia, e outras sobre este tema são indiferentes porque não sabem nem nunca ouviram a palavra biodiversidade.
Para outras perguntas do Eurobarómetro os portugueses revelaram sensibilidade ao tema da natureza e biodiversidade. Por exemplo, 79% dos portugueses inquiridos afirmaram que temos responsabilidade em cuidar da natureza e 72% acreditam que a nossa saúde e bem-estar estão assentes na natureza e biodiversidade. Já agora, biodiversidade é o conjunto da diversidade de seres vivos, de genética e de ecossistemas, e dela depende o equilíbrio ecológico do planeta.
Em Portugal há 35.000 espécies de animais e plantas, ou seja, 22% da totalidade de espécies descritas na Europa e 2% das do mundo, o que dá bem a ideia da nossa biodiversidade.
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