O Solana é uma blockchain que entrou em funcionamento este ano e devemos tê-la debaixo de olho para o desenvolvimento de serviços #DeFi, ou finanças descentralizadas. Trata-se de uma nova forma de organizar o processamento da informação financeira em torno de um conjunto descentralizado de serviços que coopera entre si, cada um eles baseado em tecnologia blockchain. O que faz a diferença no mundo #DeFi é a auto-execução ecossistémica a dar vida a cada serviço.

Assim, para que #DeFi se torne numa realidade, para além das questões de regulação já aqui referidas, é preciso que a dita arquitectura tenha uma capacidade transaccional consistente com as necessidades das várias economias, o que não tem sido fácil de assegurar até agora. É que o conceito de #Defi está baseado em blockchains públicas, com o Ethereum na linha da frente, e as suas actuais 30 tps (transacções por segundo) na versão clássica são manifestamente insuficientes (a forma como a próxima versão do Ethereum poderá ultrapassar esta limitação ficará para outra discussão).

O Solana é uma blockchain nova que demonstra na prática uma capacidade transaccional de 50.000 tps, prometendo mesmo ultrapassar os 700.000 tps caso os seus nodos estejam interligados numa rede de fibra óptica de altíssima velocidade. Começam a ser números interessantes para uma blockchain pública. Além disso, dada a sua forte disponibilidade, o Solana anuncia um custo de 0,00025USD por transacção, o que é ínfimo quando comparado com o do Ethereum, por exemplo, o qual é variável e se mede em dólares.

Mas como é que o Solana consegue esta proeza?

A rede de teste na qual o Solana experimentou a velocidade anunciada tem apenas 200 nodos, e podia ser esse o truque. Como a dificuldade do consenso entre nodos cresce exponencialmente com o seu número, um conjunto de 200 nodos é muito mais leve que os milhares do Ethereum, por exemplo. Porém, o segredo está na diferente arquitectura do Solana, a qual inclui uma nova forma de garantir o famoso consenso distribuído.

Os inventores do Solana criaram um relógio distribuído, ao qual chamaram Proof of History (PoH) e que serve para o registo temporal criptográfico de todos os dados. Com este relógio, cada nodo é livre de registar a sequência de transacções sem precisar de estar sempre a comunicar com os outos para tornar essa sequência consensual, o que diminui extraordinariamente o número de mensagens necessário para atingir esse mesmo consenso. É uma solução simplesmente brilhante.

Mas há uma inovação adicional ainda mais extraordinária, e que é a capacidade de processamento paralelo das transacções (de Smartcontracts neste caso). Uma blockchain é um sistema distribuído, ou seja, é uma máquina de estados onde as transacções vão sendo processadas sequencialmente. Como, à partida, não sabemos se uma transacção depende do estado de uma qualquer outra, a serialização de todas as transacções parecia ser a única forma de garantir que a evolução do estado do sistema é determinística (quer dizer, faz o que é suposto fazer em todas as condições).

Mas a verdade é que os Smartcontracts podem ser independentes entre si, portanto, fará sentido dar liberdade à sua execução paralela desde que se tenha a certeza de que a sua ordem de execução pode ser arbitrária. Pois é precisamente esta propriedade que o Solana conseguiu implementar através da verificação, no momento da execução, da existência de transacções com dados comuns, garantindo, ao mesmo tempo, a serialização de cada conjunto interdependente.

A arquitectura do Solana está, portanto, muito bem desenhada, e o resultado é um sistema preparado para suportar uma comunidade desejada de dezenas de milhões de consumidores, bem à altura do desafio colocado pelo mundo #DeFi.

Mas não há bela sem senão. A sua juventude justifica alguma instabilidade, tal como aconteceu no passado mês de Setembro e que obrigou a uma paragem momentânea. Enfim, nada que o próprio Ethereum não tenha experimentado também no início da sua juventude.

Por outro lado, se a resiliência criptográfica das blockchains tem demonstrado ser imune a ataques, o mesmo não se pode dizer da camada de programação dos Smartcontracts, a qual, precisamente por ser programável, tem sido alvo de diversos ataques em todas as plataformas. Como a programação dos Smartcontracts do Solana é feita com linguagens sem limitação funcional (neste caso, C, C++ e Rust), a resiliência dos seus Smartcontracts ainda estará por demonstrar. Este será, aliás, um tema a explorar aqui relativamente às várias blockchains.

Não obstante, o Solana é uma infraestrutura a ter debaixo de olho, pelo menos tão importante quanto o EOS, o Cardano, o Tezos, o Polkadot  ou o próprio Ethereum.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.