O antigo presidente norte-americano, Bill Clinton, tinha a obsessão de querer entrar na História. Inúmeras vezes desabafou nesse sentido e pelo facto de, na sua perspetiva, não ter tido um grande momento político de crise que lhe tivesse permitido deixar a sua marca.

Os atuais líderes mundiais não se podem queixar seguramente da ausência de uma grande oportunidade. A invasão russa do território soberano da Ucrânia constitui o maior desafio desde a Segunda Guerra Mundial à paz europeia e à ordem mundial. Tendo recebido a convocatória pela História, a resposta foi inequívoca no sentido de penalizar a ameaça russa.

Vejo com muita apreensão o que se está a passar na Ucrânia. Tal como os meus compatriotas, sou filho da paz e prosperidade oriundas da integração de Portugal na União Europeia e da estabilidade e segurança garantidas pela NATO na Europa.

Aos valores promovidos e assegurados na Europa após a Segunda Guerra Mundial, devo o Estado Social e tudo aquilo que hoje damos como garantido na área da saúde, educação, segurança social ou direitos dos trabalhadores.

Na minha vida, não conheci outros valores a não ser o respeito pela soberania, pelas fronteiras dos Estados europeus e pelo Direito Internacional, ou a resolução de conflitos e diferendos estritamente pela via da negociação.

É, pois, com profunda preocupação e tristeza, que assisto à invasão da Ucrânia pela Rússia, na medida em que coloca em causa as regras e princípios basilares que asseguraram o maior ciclo de paz e de prosperidade na Europa de que há memória.

Em sentido inverso, registo com alegria e satisfação que os povos europeus compreenderam a importância do momento histórico, como se tem visto pelas manifestações que têm ocorrido um pouco por toda a Europa.

Estou absolutamente convicto que Vladimir Putin mediu muito mal as consequências desta aventura militar. Nunca na sua vida terá antecipado a dimensão da resistência ucraniana, bem como a dura resposta europeia. A Europa está unida e solidária com o povo ucraniano, falando a uma só voz, desfecho que o autocrata russo nunca terá pensado que poderia ocorrer.

Portugal beneficiou muito no passado com a solidariedade europeia. Todo o processo de integração de Portugal na União Europeia é exemplo disso. Ainda hoje, aliás.

Isto dito, chegou agora a nossa vez de retribuir. É um dever moral, mas sobretudo um ato de vontade e solidariedade. Portugal deve acolher tantos refugiados ucranianos quanto possível e participar solidariamente no esforço transatlântico de resposta à agressão militar russa.

Portugal e a Europa não podem hesitar na defesa das regras e princípios vigentes e em que todos acreditamos. Mesmo que isso tenha custos no imediato ao nível do nosso bem-estar. A História convocou-nos e à chamada temos de dizer ‘presente’ sem hesitações.