Os CTT são uma empresa mais que centenária, com um claro contrato de serviço público. É uma empresa que os portugueses se habituaram a considerar, com carinho, como parte integrante da sua vida.

Após a privatização da empresa, a administração anterior encerrou inúmeras estações, com isso frustrando populações e sendo alvo de indignação de cidadãos e partidos políticos. E, a par de outros encerramentos de serviços públicos, contribuindo para a desertificação do interior do país.

Igualmente, em anos anteriores, procedeu a uma distribuição agressiva de dividendos, levando muitos a questionar até que ponto tal comportamento preparava a empresa para as necessidades de investir em formatos mais modernos de distribuição, nas encomendas expresso e na digitalização.

Um novo presidente executivo chegou, e com ele o reconhecimento de erros cometidos e um arrepiar parcial de alguns encerramentos. Pareceram ser boas notícias e talvez mesmo boa imagem, numa empresa cujo contrato está prestes a expirar e que muitos cidadãos reclamam que volte a ser nacionalizada.

Em tempo de pandemia está a ser notável o esforço dos trabalhadores dos CTT, com a sua entrega e profissionalismo, mantendo os postos de atendimento abertos e os serviços de apoio operacionais. Verdadeiros heróis da causa pública. Com a sua atitude e entrega, deram uma lição a alguns gestores que ignoram a função social das empresas e procuram apenas a maximização de lucros e de dividendos, como se as empresas fossem entidades amorais, desligadas da sociedade envolvente.

Encaramos as relações laborais com respeito pela negociação, uma postura profissional que procura ter uma visão holística de todos os interesses em compita, independência face a entidades externas aos trabalhadores, respeito pela propriedade privada, e a noção de que os seres humanos são o princípio e o fim de toda a actividade económica. Valores e postura que nos colocam nos antípodas de outros, para quem as relações laborais assentam em dialética e posições maniqueístas.

A União dos Sindicatos Independentes (USI) tem entre os seus membros três estruturas sindicais que representam trabalhadores dos CTT: SITIC, SICOMP e FENTCOP. Estas e os demais sindicatos convocaram uma greve para dia 29 de Maio, protestando contra a imposição do cartão de refeição.

Como é evidente, mandaria o bom senso que se continuasse a procurar uma solução de compromisso, que se salvaguardasse os interesses de todos, o que só se alcançará à mesa das negociações. Não foi esse o entendimento da administração dos CTT. Teríamos preferido, em tempo de pandemia, solidariedade e entrega à causa pública, que a administração usasse a força de eventuais argumentos superiores e não a pobreza da imposição.

Convidamos a administração dos CTT a repensar e a corrigir um rumo autoritário que a todos prejudicará e que não honra os pergaminhos da empresa. Em todo o caso, se é essa a vontade da administração, que fique claro que também não viramos a cara à luta. A USI não deixará de estar ao lado dos trabalhadores no dia 29 de Maio.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.