Desde que me lembro, fui ensinado sobre a necessidade permanente de fazer escolhas. Ainda criança, recordo-me de o meu pai me explicar a impossibilidade de adquirir todos os dias um carrinho da Matchbox, uma vez que o dinheiro que auferia tinha de satisfazer outras necessidades mais imperiosas.

Mais tarde, já no liceu, aprendi que a economia é uma ciência de escolhas, que os recursos são escassos e suscetíveis de utilizações alternativas. Na faculdade, reforcei os meus conhecimentos sobre a ciência económica e consciencializei-me da necessidade que todos temos de fazer opções.

Hoje, constato que muitas pessoas, algumas com responsabilidades, parecem ignorar esta realidade ou, pelo menos, esquecem-na com frequência. Vem isto a propósito do papel do Estado e do financiamento da sua atividade.

Habituados a viver à sombra do Estado Social, os europeus, em geral, e os portugueses, em particular, esquecem-se da forma como o Estado obtém recursos que lhe permitem ir satisfazendo as necessidades daqueles que diariamente são cobertos pelo seu manto protetor.

Quanto maiores forem os benefícios que os indivíduos recebem do Estado (segurança, saúde, educação, justiça, etc.) maiores serão, logicamente, as necessidades de financiamento que este tem. No limite, se o Estado a todos quer proteger, garantir, auxiliar, torna-se um monstro, dificilmente saciável.

Ora, atualmente, em Portugal, realidade que mais nos interessa, o Estado parece querer acolher sob o seu manto protetor um número crescente de pessoas e situações, o que, à primeira vista, do ponto de vista social, parece louvável.

Protegem-se as crianças, os jovens, os estudantes, os trabalhadores, os desempregados, os reformados, os doentes, os incapacitados, os idosos, as empresas e muitos outros. Atribuem-se tantos subsídios que é praticamente impossível fazer uma enumeração exaustiva dos mesmos: abono de família, pensão de orfandade, subsídio de doença, subsídio parental, bolsas de estudo, subsídio de desemprego, pensão de reforma, rendimento social de inserção, complemento solidário para idosos, subsídio de funeral, subsídio de arrendamento, etc., etc., etc. Os gastos com a saúde e com a educação (tendencialmente gratuitas, ou seja, suportadas pelos nossos impostos) são cada vez mais avassaladores.

Acontece que, para subsidiarmos o monstro, que estende cada vez mais os seus tentáculos, necessitamos de pagar mais impostos. É por isso que é praticamente impossível fazermos algo sem que sejamos tributados. Pagamos impostos por trabalhar, por almoçar, por comprar carro, por ter carro, por andar de carro, por comprar casa, por ter casa, por vender casa, por receber, por gastar, por poupar, por investir…

Sucede que, como comecei a aprender desde criança, é preciso fazer escolhas. Os recursos são escassos. As necessidades ilimitadas. Não é, pois, possível querermos ter “sol na eira e chuva no nabal”. Se queremos viver à sombra do monstro, então não nos queixemos da necessidade crescente de o financiarmos através dos nossos impostos, os quais irão, se se continuar nesta escalada protecionista, aumentar cada vez mais.

Estranho, assim, aqueles que, sejam da direita ou da esquerda, diariamente acenam com a frase “Don’t feed the monster”.