A diversidade cultural traz-nos resiliência, o que contribui diretamente para a nossa capacidade de superação. Esta tendência é-nos intrínseca e deve ser capitalizada para melhores resultados.

Beirute sofreu, no mês passado, uma devastação sem precedentes. A explosão no porto da cidade levou a mais de uma centena de mortos, milhares de feridos e centenas de milhares de desalojados. Esta tragédia deixou a cidade e o país expostos às suas fragilidades endémicas – uma sociedade fragmentada pelo clientelismo, contaminada pela corrupção sistémica que tem gerado crises económicas e sociais dramáticas, exposta a interesses e pressões externas e dividida em vários estados incapazes de providenciar os bens públicos necessários à redução da desigualdade.

No entanto, quando muitos apontavam a diversidade religiosa e cultural como a principal razão para a instabilidade social, política e económica do país, eis que a resiliência do povo libanês ressurge numa onda de solidariedade e regeneração. Na verdade, quem conhece Beirute e o Líbano, também conhece a sua riqueza cultural e a sua heterogeneidade social. É exatamente esta diversidade que tem feito com que, ao longo dos anos, a sua população tenha sido capaz de resistir e recuperar de crises, fragmentações sociais, guerras civis e ocupações estrangeiras.

A diversidade é, como bem nos lembra a história do Líbano, fonte de resiliência. Esta é uma lição que deveria estar gravada na pedra pelas implicações que tem nos diversos domínios da nossa vida em sociedade. Há uma sobre a qual gostaria de refletir no último parágrafo deste artigo – o contexto organizacional.

Há um par de meses, a consultora McKinsey lançava o estudo “Diversity matters Latin America”. O documento publicado discute a perceção de colaboradores sobre a diversidade nas suas empresas e o respetivo impacto no negócio. Os resultados são absolutamente espantosos. De acordo com o estudo, as empresas mais diversas (em termos de género, etnia e orientação sexual) têm 55% maior probabilidade de obter uma performance económica e financeira superior a outras na mesma área de atuação. Isto, deve-se a uma cultura mais colaborativa, maior abertura e melhor comunicação, mais inovação, menor rotatividade e maior retenção de talento.

Há lições que não podemos esquecer. Há valores de que não podemos abdicar em nome de nenhum fim. Há divisões que raramente trazem resultados e benefícios, sobretudo em momentos difíceis e/ou de crise. E há uma frase que nunca esquecerei e que reflete tudo isto: “Somos o que partilhamos”. Somos quando partilhamos a nossa cultura, as nossas experiências ou a nossa língua. Somos quando aprendemos a valorizar o que é diferente. Beirute mostrou-nos isto no passado e relembra-nos isto hoje.