Após a Web Summit e o NewCo Festival, Lisboa e o resto de Portugal vibram com as startups. Os novos empreendedores digitais prometem aproveitar o talento, a começar pelo próprio, que as empresas tradicionais não conseguem incorporar nos seus obsoletos modelos de negócio. Além da transformação do tecido económico e social que as startups promovem, personificam o fim do monopólio das grandes empresas sobre o poder económico. Ou, no mínimo, sobre a comunicação económica.
De acordo com a Acció, a agência catalã para a competitividade, as mais de 1.000 startups implantadas na região, fortemente concentradas em Barcelona, faturam mais de 1.300 milhões de euros e empregam 10.000 pessoas. Representam já (ou só) 0,7% do PIB e 0,3% do emprego.
Ninguém duvida da importância deste novo segmento empresarial, mas receio que as expetativas criadas em seu redor acabem por prejudicar o seu próprio desenvolvimento e, pior ainda, o crescimento equilibrado da economia. A “sobre-estimulação” social com este assunto, símbolo da hipermodernidade reinante, concentra excessivamente o foco político e financeiro neste segmento em detrimento das empresas de média dimensão, muitas delas anónimas, que teriam maior benefício em acelerar a sua transformação digital. Concentramo-nos muito no empreendimento e pouco no crescimento real da economia, que só pode ser sustentado nas PME, a verdadeira espinha dorsal de qualquer sociedade economicamente saudável.
Receio que a mitificação das startups seja também consequência de uma tentativa de alienação das massas, que pretende mascarar a grande desilusão das classes médias com a paixão e alguma inocência dos promotores desses novos negócios. Perante a indisponibilidade de capital físico, malgastado pela geração anterior e transformado numa herança de dívida para as gerações futuras, o conhecimento transforma-se no novo maná empresarial que nos devolverá a abundância através da sua promessa de exponencialidade.
Não me considero nenhum reacionário “cibernícola”, nem partidário de qualquer “neoludismo” que trave o progresso da sociedade. Mas, perante uma certa praga de criatividade inconsequente, reclamo maior atenção para as muitas boas empresas que existem em Portugal e que não têm acesso ao branding, ao marketing e a outras ferramentas de comunicação que lhes permitam ganhar visibilidade e aceder mais facilmente ao financiamento do seu processo de transformação digital, indispensável para garantir a sobrevivência do seu negócio e a estabilidade económica do país.
Apesar de eu viver da tecnologia, não tenho uma fé cega neste tecnocapitalismo dominante, ainda menos perante um mais que provável cenário de maior isolacionismo americano que poderá inviabilizar muitos modelos de negócio das startups, que requerem uma escala global e um acesso livre aos mercados. O monopólio do protagonismo económico passou das grandes empresas para as startups. E, como sempre, os monopólios só não são maus para quem tem um.