Nas últimas décadas, Portugal tem tido graves problemas económicos, de que destaco dois: uma dívida externa galopante, que subiu de um valor insignificante em 1995 (8% do PIB), para uns estratosféricos 110% do PIB em 2011, a principal razão porque deixámos de ter acesso a financiamento externo e fomos obrigados a pedir ajuda à troika; uma estagnação económica desde 2000, que nos tem colocado numa trajectória de divergência da União Europeia, sendo ultrapassados (ou em vias de o ser) por muitos dos países do Leste Europeu.

Chegámos aqui com um silêncio ensurdecedor da sociedade civil. Quando os governos cometiam erros graves, só se ouviam raras vozes isoladas a chamar a atenção, mas nenhuma tomada de posição institucional. Quando aqueles eram substituídos por executivos empenhados em corrigir alguma coisa, de novo o mesmo silêncio sepulcral, quando, desta feita, o que seria necessário seriam declarações de apoio a medidas difíceis. Para o cidadão pouco informado, quando viam o governo isolado a tomar medidas impopulares, era fácil concluir que estas estavam erradas, porque “toda a gente” estava contra.

Quanto à oposição política, geralmente incompetente, focada no acessório, tem sido desvalorizada pelo eleitorado, com alguma razão, por se especializar em defender o oposto do que diziam quando estavam no poder.

Isto tem sido uma combinação fatal para o país. Quando os governos cometem erros, não há discursos institucionais que funcionem como freio, pelo que as políticas erradas são muito mais extensas e provocam estragos muito superiores aos que ocorreriam se houvesse críticas severas e credíveis. Na fase oposta, de correcção, a falta de apoio institucional credível provoca então um travão nas reformas necessárias, que acabam por ser muito mais tímidas do que o poderiam ser. Ou seja, na fase da asneira, estas são muito maiores do que poderiam ser e, na fase da correcção, esta é muito menor. Como é óbvio, não poderia haver uma combinação mais catastrófica para o país.

A Ordem dos Economistas tem, obviamente, a responsabilidade de alertar o país para os principais problemas económicos que enfrenta e, no passado, esteve muito longe de estar à altura das suas responsabilidades.

Por isso, sugiro que a sua nova direcção passe a ter um papel muito mais activo. Em particular, que ajude os portugueses a tomar consciência de que estamos a cair para o fundo da tabela europeia e de que isto não é aceitável nem inevitável. Proponho, em particular, que a Ordem crie um grupo de trabalho para fazer um levantamento das medidas económicas que tão grande sucesso têm tido nos países de Leste que nos ultrapassaram, para identificar quais as que faz sentido que Portugal copie, com as devidas adaptações. Estou seguro que não será difícil angariar financiamento, junto das maiores empresas e também junto do governo, para este tema tão decisivo.

Para além disso, nos próximos anos, vamos dispor de um montante excepcional de fundos europeus e era essencial que a sua utilização fosse monitorizada com exigência e rigor, para que não se repitam os erros do passado.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.