Há uma nova ideia em Barcelona que rapidamente está a ser copiada por dezenas de cidades espanholas, incluindo Madrid: os super quarteirões sem carros.

A ideia é tão simples quanto poderosa: no interior dos quarteirões limita-se o trânsito de passagem, permitindo apenas a entrada dos residentes, transportes públicos, veículos de emergência e cargas e descargas. As ruas, ao invés de servirem apenas para nos deslocarmos do ponto a para o ponto b, servem também para passear, brincar com as crianças, fazer desporto, ler ou realizar atividades culturais.

Em 2016 começaram a ser implementadas em Barcelona e já existem nove. A câmara municipal espera conseguir alcançar as 20 nos próximos tempos, mas o objetivo final é criar 500 super quarteirões sem carros.

As primeiras passaram no teste empírico em pouco tempo: a qualidade do ar melhorou significativamente, o ruído baixou para os níveis considerados saudáveis, as famílias invadiram as ruas usando os parques infantis e as mesas de piquenique colocadas onde antes circulavam carros.

Os lojistas, que ao início se opuseram à ideia, abandonaram as críticas e o número de lojas, longe de diminuir, cresceu.

Claro que os transportes públicos tiveram de ser reforçados, mas – ao contrário do que se previra nos estudos de tráfego – o trânsito não aumentou, as filas não aumentaram. Aliás, diminuíram consideravelmente.

Agora, o município de Barcelona tem um plano para a implementação massiva dos super quarteirões sem carros com a participação dos cidadãos e o objetivo de salvar 3.500 vidas por ano, entre atropelamentos e problemas de saúde associados à má qualidade do ar e ao ruído.

As contas já foram feitas: com uma redução de 15% no número de carros é possível manter a cidade a funcionar sem problemas e aumentar o espaço público disponível para as famílias em mais de 70%.

Para além disso, os super quarteirões sem carros permitem responder a alguns desafios da emergência sanitária de Covid-19 e da emergência climática.

Ao criar-se mais espaço público sem mexer num único edifício, os super quarteirões permitem que as pessoas mantenham a necessária distância de segurança, e ao reduzirmos a dependência do automóvel, guardando-o para as deslocações que não podem ser feitas de outro modo, estamos também a reduzir a dependência do carbono e a emitir menos gases com efeito de estufa.

Fora de Espanha já há muitas cidades a usar o exemplo de Barcelona para repensar o seu modelo urbanístico. Em Lisboa faríamos bem em reabrir o debate sobre o espaço público e sobre como os automóveis ocupam cerca de 60% desse espaço.

Sei bem que é um debate extremamente aceso,basta ver pelo exemplo mais recente da redução de uma via na Av. Almirante Reis, em Lisboa.

Mas, se concordamos que é necessário agir sobre a emergência climática e o problema sanitário provocado pelo coronavírus, então quem tiver melhores soluções que as apresente e não fique eternamente a criticar quem está empenhado a pensar a cidade que precisamos.