As eleições presidenciais norte-americanas estão na recta final e o suspense deverá durar até ao final do escrutínio, um dos mais renhidos dos últimos anos. A escolha dos eleitores deverá ter impactos significativos sobre o resto do mundo, quer em termos políticos, quer económicos, quer ambientais.
Em termos políticos, a vitória de Trump poderá colocar em causa a robustez da democracia dos EUA, a fazer fé no seu passado e nas promessas que tem feito. Numa vertente mais económica, o empenho em colocar em causa a independência da Reserva Federal parece um (preocupante) exemplo da vontade de colocar em causa a neutralidade da administração pública e de a governamentalizar. Dada a capacidade deste país de influenciar muitos outros, neste caso pelas piores razões, não seria uma boa notícia.
Este político tem um outro lado de imprevisibilidade, que deverá colocar ainda mais em causa aquilo que hoje já está abalado: o papel de referência dos Estados Unidos como baluarte de uma ordem internacional baseada sobretudo em regras. Com as suas excepções, como é evidente.
O seu discurso discriminatório para várias minorias pode dar ainda mais gás a políticos noutras paragens para adoptar o mesmo tipo de palavras, que representam um recuo civilizacional.
As ameaças sobre a relação com a NATO devem causar preocupação na Europa, sendo a necessidade de esta financiar uma fracção maior da sua defesa apenas uma parte da questão. A gestão dos conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente serão também muito relevantes.
Na economia, espera-se maior proteccionismo do próximo presidente, qualquer que ele seja, mas provavelmente mais intenso e irracional se vencer o candidato republicano. Um dos padrões que se tem detectado no recuo da globalização tem sido a diminuição de comércio entre grandes blocos, mas a intensificação das trocas dentro de cada bloco. Com Kamala, há mais condições para que se possa falar no bloco ocidental, enquanto com Trump será mais provável a cisão deste entre Europa e a América do Norte (agrupada na NAFTA).
Talvez o aspecto mais substancial de todos ainda venha a ser nas alterações climáticas, em que a candidata democrata deverá prosseguir os esforços do actual presidente, enquanto o republicano poderá colocar demasiadas metas em causa. Nesta área, o mau exemplo americano pode ser mesmo catastrófico a nível mundial, diminuindo o (reduzido) empenho de alguns dos maiores consumidores de energia fóssil.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.