Atualmente, temos uns EUA em que o presidente e o seu ‘assistente’ optaram por recusar a importância do impacte das alterações climáticas na economia. Preferem lançar a mentira de que o “clima” não é tema, que prejudica a economia e não favorece o crescimento das empresas americanas. Num mundo onde há tanta informação disponível, só os estúpidos ou aqueles com escassa educação é que podem justificar concordar com esta afirmação.

Temos o mundo parado, estupefacto, a olhar as medidas disparatadas, infantis e dignas de uma comédia à la Monty Python, não fossem elas tomadas por aquele que se considera o país com mais influência e poder mundial. Talvez daqui a uns quatro meses já não o “consideremos” como tal…

Enquanto esta rejeição dos temas climáticos e ESG por parte do governo americano traz também uma pressão à Europa, para descomplicar uma filosofia de economia de mercado que não foi ensinada, arrisco dizer, a pelo menos 75% dos conselhos de administração existentes na Europa, a China tem o seu plano bem definido: ser uma civilização ecológica no século XXI e alcançar a sua neutralidade carbónica até 2060.

Por cá, perdemos tempo a atacar a regulação europeia, a dizer que é tudo impossível porque é exigente e complexo. Enquanto isso, a China vai avançando na mesma direção. Penso que a grande maioria dos leitores reconhece que a China tem uma visão de desenvolvimento a longo prazo, é estratégica e focada no seu crescimento. Bem sabemos que é um país com temas sociais desafiadores e ainda por resolver, mas pelo caminho que os EUA estão a levar, bem como alguns países europeus, em breve os problemas que outrora se colocavam lá no Oriente, estarão também por cá, no Ocidente.

Não digo que isto faça do assunto um “não assunto”, antes sublinho que o problema se torna universal. Acresce que não podemos acusar a China de “coisas” que também toleramos no Ocidente.

Voltando ao tema, e recordando que atualmente há um enviesamento da informação em prol do argumento de que as medidas europeias para promover a sustentabilidade nas empresas devem ser reduzidas ou adiadas ou eliminadas, a China parece não concordar com esta nova onda de sound bites populistas.

Na realidade, em 2024, o Ministério das Finanças da China lançou as Normas Chinesas de Divulgação da Sustentabilidade, que são um conjunto de diretrizes para as empresas chinesas reportarem informações ambientais, sociais e de governança (ESG). Inspiradas em padrões internacionais, como os ISSB e CSRD (Diretiva Europeia), a Norma Chinesa procura harmonizar os relatórios de sustentabilidade chineses com as práticas globais. As normas enfatizam a dupla materialidade, considerando tanto os impactos financeiros quanto os impactos sociais e ambientais. Com uma abordagem faseada, as empresas devem alinhar-se gradualmente com os requisitos da Norma.

Os principais marcos no calendário deste aumento da exigência no reporte corporativo incluem, também, o desenvolvimento de normas de divulgação relacionadas com o clima até 2027.

Parece que este calendário reflete a consciência da urgência dos riscos relacionados com o clima, especialmente à luz dos objetivos de neutralidade carbónica da China até 2060. Ao concentrarem-se inicialmente no clima, as empresas podem começar a abordar algumas das questões mais críticas no âmbito dos temas de ESG. Além disso, o Ministério das Finanças planeia publicar orientações pormenorizadas para a divulgação de informações específicas do sector, reforçando a relevância dos requisitos de informação em todos os sectores.

Na realidade, pouco ou nada tem sido referido nos media sobre o facto de a China estar a trabalhar no conceito geopolítico de “civilização ecológica” há quase 20 anos. Proposto em 2007 pelo Presidente Hu Jintao, este conceito foi promovido à categoria de princípio constitucional da República Popular em 2018. Em 2021, o Presidente Xi Jinping fez dele um dos principais pilares da narrativa coletiva da China, estabelecendo o objetivo de neutralidade carbónica até 2060. A “civilização ecológica” é, assim, a nova estratégia económica do governo, centrada no “desenvolvimento inclusivo e na modernização ecológica para o sonho de rejuvenescimento nacional da China”.

Acham que a China vai abrandar na sua estratégia de se tornar uma Civilização Ecológica, porque dois lunáticos acham que conseguem viver na Lua caso, afinal, o planeta mude e se torne um local impossível de habitar? Diria que a China tem provado que é mais inteligente do que uma ameaça conjuntural. Seja a Europa também capaz de também incrementar a sua inteligência e sejamos todos nós capazes de assumir os nossos deveres como cidadãos, e defender a evolução civilizacional e os direitos humanos. Direitos esses que as empresas também devem respeitar e promover.