Os estúdios de cinema da Tage Studio – que vinham para Portugal e iriam envolver um investimento de 200 milhões e a criação de numerosos postos de trabalho – já não se vão instalar no terreno de Palmela, apurou o Jornal Económico (JE).
O contrato de promessa de compra e venda assinado entre a Tage Studios e o proprietário do terreno que iria receber o primeiro estúdio verde de cinema da Europa em Portugal foi rescindido. Isto apesar da boa vontade demonstrada sempre pela Câmara Municipal de Palmela para que o projeto se concretizasse.
O facto de o projeto de licenciamento não estar concluído, permitiu que a Tage Studio rescindisse o contrato. Isto depois de várias prorrogações longo do tempo, com pagamentos.
Em 2021 foi dado a conhecer o projeto Tage – Centro Internacional do Audiovisual, uma parceria entre Município de Palmela e a FreshWisdom a desenvolver ao longo dos anos seguintes no Vale do Alecrim, na freguesia de Palmela.
O Tage reportava um investimento, à data, de 175 milhões de euros, que iria criar 500 postos de trabalho na área da construção em cada fase, 700 postos de trabalho diretos na primeira fase (na soma das três, seriam mais de 2.000) e 1.100 postos de trabalho indiretos na fase inicial (mais de 3.000 na soma das três).
A construção dos Tage Studios, previa-se para o final de 2024 ou início de 2025 – e seriam os primeiros estudios totalmente construídos a pensar na sustentabilidade ambiental.
O investimento previsto entretanto aumentou e o valor já estava nos 200 milhões de euros (para a primeira fase do projeto). É um valor importante em termos de investimento direto estrangeiro.
No teaser do projeto, elaborado pela Deloitte, era referido que o projeto Tage envolvia a aquisição de terrenos e a construção de um complexo internacional de estúdios cinematográficos perto de Lisboa.
A fase inicial do Projecto envolvia a aquisição do terreno e o desenvolvimento da Fase I, que seria 100% autónoma, podendo operar sem o contributo de futuras extensões, de acordo com o teaser.
Na origem da desistência poderá estar o baixo incentivo à Grande Produção (cash-refund), que foi criado no fim de 2023, com a dotação anual até 20 milhões de euros, a ser considerado manifestamente insuficiente e a afastar as grandes produtoras de virem para Portugal. As produtoras de cinema internacionais pediam um aumento gradual desse cash-refund, até aos 100 milhões de euros até 2028.
Limitação estrutural
Tal como o JE noticiou, as produtoras falam de uma limitação estrutural, quando comparado com os regimes congéneres, devido à existência de um “cap” global de 20 milhões, de um “cap” individual de seis milhões por obra cinematográfica ou audiovisual e de um “cap” de três milhões por cada episódio produzido de séries audiovisuais.
O Governo tem neste momento em consulta pública o programa de financiamento à indústria do audiovisual e do cinema (SCRI.PT), e vai depender da legislação que vier a ser adoptada o Tage Studios manter o interesse em fazer o projeto em Portugal. A celeridade também será um critério a ter em conta, pelo que o risco de Portugal perder esse Projeto de Interesse Nacional (PIN) é grande.
David Hallyday (cantor e compositor francês, filho dos cantores franceses Sylvie Vartan e Johnny Hallyday), é fundador e diretor dos Tage Studios e numa entrevista ao “The Hollywood Reporter” em 2023 dizia que “a ideia era criar um estúdio de referência, para cinema e televisão, que fosse amigo do ambiente e auto-sustentável desde o primeiro dia, e o primeiro do mundo com estas características”.
O Projeto do Tage Studios que ia nascer em Palmela prometia ser o primeiro estúdio de cinema verdadeiramente verde da Europa e, talvez, do mundo. As obras estavam previstas arrancar em 2024, mas nem nos primeiros meses de 2025 arrancaram.
Na altura Claire Havet, a gestora de projeto dos Tage Studios, dizia que a escolha do País que descreve como “a Califórnia da Europa, foi devido à média de 300 dias por ano com sol, e ao facto de “Portugal estar extremamente desenvolvido em termos de sustentabilidade energética”. Contactada Claire Havet, não respondeu até ao fecho da edição.
David Hallyday, por sua vez, garantia que as instalações estavam projetadas para serem estruturas com zero gastos energéticos, com painéis fotovoltaicos e sistemas de recuperação e reutilização de eletricidade e águas pluviais. Defendeu que a preservação da biodiversidade local tem um papel com grande importância na construção, assim como a utilização de materiais de origem local e os resíduos reciclados.
As dimensões dos Tage Studios punham-nos ao nível dos maiores estúdios do mundo e maiores da Europa, superando Pinewood (Londres), Warner Leavesden (Watford) e Babelsberg (Berlim). O estúdio principal em Palmela era para ter 5.200 metros quadrados e haveria ainda seis outros palcos, entre os 2.000 e 3.600 metros quadrados. A área externa seria de 55 mil metros quadrados, com um tanque de água ao ar livre.
Os promotores diziam que este investimento “representava uma excelente oportunidade para Portugal, quer ao nível da indústria cinematográfica, como para o turismo”.
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