De repente, surpresa e incredulidade. O mundo depara-se com um desafio para o qual não estava preparado. Uma situação que só equacionávamos no cinema ou nos livros de História. Seria algo impensável no século XXI. A volatilidade dos mercados disparou, as bolsas caíram e o preço do petróleo atingiu valores inverosímeis. Os governos ganham protagonismo. A economia mundial está fortemente ameaçada e, acima de tudo, reina a dúvida.
Até onde poderá escalar esta situação? E quantas pessoas irão morrer?
A descrição encaixa bem no que vivemos atualmente, mas também era perfeitamente adequada ao contexto de há exatamente dois anos, quando surgiu a pandemia de Covid-19. Devemos, por isso, aproveitar essa valiosa e recente experiência para navegarmos nesta nova crise.
Tal como sucede agora, eram tempos de desorientação e de profunda incerteza, normalmente maus conselheiros. Hoje, como em março de 2020, o risco de se tomarem decisões emotivas é grande, sobretudo na vertente financeira. Mais do que nunca, é desaconselhável comprar caro e vender barato. Daqui a um mês haverá muito mais visibilidade.
Rapidamente, o mundo vai-se adaptando a este conflito, que é particularmente inoportuno em tempos de inflação já em alta. Os governos parecem estar disponíveis para reforçar a transição energética e amortecer a subida dos preços. A OPEP deverá aumentar a produção de petróleo. Os países voltam a dar importância à defesa e às alianças. Afinal de contas, estar ou não na NATO faz alguma diferença, descobrem alguns.
Falta saber se, como e quando irá terminar a guerra no leste europeu. O que me parece mais provável é que a Ucrânia se transforme numa “nova Berlim”, dividida e mais neutral, mas um foco de tensão permanente. Ou seja, uma derrota para todas as partes. É improvável que a guerra aberta dure muitos meses, mas a confiança na Rússia está perdida por décadas e veremos como será a relação com a China. A globalização, que já tinha sofrido um rude golpe com a Covid-19, já não é a tendência central.