Um dos temas que está cada vez mais na agenda política é a nossa capacidade para produzir, reter e atrair talento. Necessitamos de jovens, altamente qualificados, com um conjunto de competências cruciais para o aumento da produtividade e competitividade da nossa economia e que possam provocar uma mudança profunda na nossa estrutura produtiva.

As políticas públicas para a produção de talento têm funcionado com um significativo sucesso. As nossas universidades e politécnicos formam quadros, sobretudo nas áreas das tecnologias, reconhecidamente de primeira qualidade. Estas políticas devem continuar e o investimento no ensino superior deve ser reforçado.

Já na retenção de talento, sobretudo de talento jovem, temos ainda um caminho a percorrer. A importância desta retenção e o impacto que pode ter justifica-se em várias vertentes:

(i) Uma parte substancial deste talento é produzido em universidades e institutos públicos cujas propinas não cobrem, evidentemente, o custo por aluno. Este investimento deve, portanto, dar retorno para a economia.

Se estes jovens ficarem a trabalhar em Portugal (ou voltarem depois de ganharem experiência internacional), enriquecem o nosso tecido produtivo, contribuem para o erário público pagando impostos e densificam a faixa da população ativa qualificada, contribuindo para a sustentabilidade da segurança social.

(ii) Este talento jovem tem, naturalmente, potencial para constituir família. Ora, o deserto demográfico que se adivinha é outro dos grandes desafios que temos pela frente. Atrair e fixar jovens revela-se, também neste eixo, crucial.

(iii) Estes jovens têm um potencial empreendedor notável. Podem, por um lado, dinamizar e enriquecer as empresas onde trabalhem, mas podem, por outro, criar novos negócios ajudando a fazer crescer um ecossistema mais inovador e dinâmico com externalidades evidentes para a economia.

Ou seja, o desenvolvimento de políticas públicas para a retenção de talento jovem criado em Portugal (e também importado de outros países), pode ter impacto a nível da produtividade, competitividade, receitas fiscais, sustentabilidade da segurança social, demografia, dinamismo empresarial, e mudança de paradigma cultural e social.

Os filhos destes jovens tenderão a ser, eles próprios, qualificados e capazes de reproduzir o dinamismo da geração anterior.

Acredito que em Portugal temos algumas características naturais que ajudam neste desígnio. Temos um país tranquilo, seguro, com um ambiente político estável. Temos um clima bom e um conjunto de paisagens muito diversificadas. Temos uma dimensão agradável: não temos megacidades, mas temos escala suficiente para termos acesso a praticamente tudo.

Mas temos claramente obstáculos a ultrapassar.

Os nossos salários são baixos comparados com a média europeia, as rendas nas principais cidades têm subido substancialmente tornando difícil viver no centro, os sistemas de transportes públicos dentro das cidades e entre cidades são ainda insuficientes, tornando difícil a retenção fora das áreas metropolitanas principais.

E faltam-nos empresas: empresas atraentes, dinâmicas, que possam igualar salários internacionais, que sejam fontes de aprendizagem. Assim, parte das políticas públicas para a retenção de talento deve passar pela atração e estímulo a investimento de qualidade.

Há muito a fazer, mas é uma área aonde acredito que políticas ousadas, fora da caixa, inovadoras e ágeis podem e devem fazer toda a diferença.