Como deve ser do conhecimento que quem vai lendo os meus artigos, não tenho formação em medicina nem noutra área que se aproxime. Portanto, nada posso acrescentar nesse sentido. Mas posso escrever um pouco sobre aquilo que todos estamos a tentar fazer, ou que todos talvez devêssemos estar a tentar fazer: conter, ao máximo, o coronavírus, com as ferramentas que temos à nossa disposição.

Também não sou especialista em saúde pública e portanto não vou insistir no facto de o sistema não estar preparado para uma afluência em massa às urgências. Mas agradeço que o leitor poupe quem está no “olho do furacão”, desde pessoal de saúde, a bombeiros, a auxiliares e a todos os outros que garantem que temos comida nos supermercados, produtores e funcionários, a todos aqueles que recolhem o lixo, os que asseguram o funcionamento dos transportes públicos, e todos aqueles que continuam a ter que trabalhar fora de casa para que o país não feche. A todos, sem excepção o meu agradecimento!

Estava reticente em vir para aqui com conversas sobre cidadania e outras coisas que tais, e também não queria analisar a actuação governamental, pois não é o melhor momento para isso. Tenho, contudo, a dizer que a maioria das acções e palavras do Governo e do Parlamento me têm agradado minimamente – o que é coisa rara. Posso não concordar com todas as decisões, mas não tenho a mesma informação que os actores políticos. Portanto, resta-me voltar ao tema da cidadania e do comportamento de todos nós, portugueses.

Nos últimos dias, com a agitação que se vive nas redes sociais, tem sido difícil fazer mais alguma coisa que não seja estar constantemente a ler. A ler a opinião das pessoas, a ler sobre os desenvolvimentos da situação, a falar com amigos e conhecidos. E, claro, a defender que as pessoas fiquem em casa o máximo que puderem e que se protejam os mais vulneráveis.

Mais do que isso, penso que é nosso dever falar com as pessoas que, por alguma razão, ainda não perceberam bem o que significa esta crise, sendo que a única certeza que temos é que ela nos vai afectar a todos, directa e indirectamente.

Por circunstâncias várias, desde desconhecimento, a falta de tempo, a uma questão de fé, nem sempre percebemos a gravidade da situação em que nos encontramos agora. Logo, cabe a todos nós tentarmos partilhar informação credível sobre a situação e, dentro do possível, esclarecer dúvidas junto dos mais próximos e menos próximos. Estaremos a treinar as nossas capacidades de olhar para os outros e de falar com todos. Mais importante ainda, poderemos estar a ajudar a salvar vidas – quer daqueles com quem estamos a falar, quer das pessoas que estejam a prestar auxílio aos infectados, quer de alguém que nos leia ou escute.

Os portugueses são pródigos a criar graçolas para justificar como no final tudo pode ficar bem. Mas muitos de nós sabemos que, em muitos casos, são apenas desculpas para tudo o que correu mal. Este não é o momento de arranjar desculpas. Este é o momento de cumprirmos o nosso dever cidadão de nos defendermos a nós e aos outros, por exemplo, ficando em casa. Mas não só. Que se façam graçolas com tudo o resto que não implique pôr vidas humanas em risco. Isto parece ser um slogan, mas não é: todos podemos e devemos fazer a diferença.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.