Charles Abbott, um dos sete mil habitantes da cidade de Aspen, no Colorado, ganhou um lugar na História ao aparecer no tribunal, em maio de 2015, com um mocho empalhado de nome Salomão como advogado de defesa. Abbott explicou que Salomão tinha licenciaturas em Direito de Harvard, Yale e Stanford, mas a verdade é que durante o julgamento o mocho não abriu o bico (é caso para o dizer).
Estava em causa a ordem do Tribunal imposta a Abbott, de 67 anos, de não se aproximar do seu anterior co-residente Stranahan, ordem que Abbott violou ao entrar em casa dele para pretensamente retirar pertences seus, o que o Stranahan contesta, dizendo-se vítima de roubo. Não é portanto de surpreender que o juiz tenha mantido a interdição a Abbott, tornando definitivo o desentendimento entre ambos que começou numa briga numa reunião dos Alcoólicos Anónimos.
Um caso mais famoso deu-se nos EUA de 1791, quando Aaron Burr foi eleito para o Senado derrotando Schuyler, sogro de Alexander Hamilton, o que constitui o início de uma bela inimizade. Sempre a oporem-se um ao outro, a coisa tornou-se complicada atendendo a que Burr foi Vice-Presidente e Hamilton o primeiro Secretário de Estado do Tesouro. Em 1804, Hamilton participou ativamente na derrota de Burr nas eleições para Governador de Nova Iorque, e as coisas azedaram-se ao ponto de travarem um duelo, do qual Hamilton haveria de acabar por morrer.
No século passado é sobejamente conhecida a divergência entre Estaline e Trotsky, que levou ao exílio do último no México, onde a sua cabeça terá tido um encontro fatal com uma picareta oferecida por Estaline. E mesmo entre os homens de ciência há desentendimentos, e nos dias de hoje. Sobre a eficiência dos mercados financeiros, Robert Schiller disse sobre Eugene Fama, demonstrando que os resultados deste vão contra a sua própria teoria, que ele se devia sentir como um padre católico que descobre que afinal Deus não existe.
Os desentendimentos não são só entre indivíduos, dão-se também entre grupos, como é hoje frequente com claques de futebol. Nos tempos do imperador Justiniano, em Constantinopla, as corridas de carros eram o desporto da moda, e a grande rivalidade era entre verdes e azuis, que provocaram disputas que extravasavam o campo desportivo e tornavam estas claques autênticos partidos políticos. Em 532 levaram à revolta de Nika, quando Justiniano decidiu a vitória na corrida a favor do seu cavalo e a população se revoltou contra si.
Santa Sofia foi incendiada, o Palácio Imperial devastado e a multidão tentou nomear um novo imperador. A revolta foi dominada pelo general Belisário, que terá degolado trinta mil revoltosos, e Justiniano consolidou o seu poder. Nós, por cá, não vamos tão longe. No Livre, Joacine foi definitivamente corrida do partido.