Todas as atenções estão agora concentradas nas eleições americanas de 5 de novembro. Desafia toda a lógica que um candidato como Trump tenha conseguido chegar a este ponto tão perigoso de ser reeleito, mesmo após ter incentivado uma insurreição no Capitólio, há menos de quatro anos, e de estar mergulhado em problemas judiciais que prometem manchar o próximo mandato, caso seja reeleito.
Há uma década seria difícil conceber uma eleição tão renhida como esta, que colocará os EUA no caminho para se tornarem um estado tirânico, ao lado de regimes autocráticos como a China ou a Rússia. Um estado fascista, racista e xenófobo, que não hesitará em usar a violência contra os seus próprios cidadãos.
A perda de direitos civis será incalculável, já para não falar do negacionismo, da crise climática ou do crescimento do fundamentalismo religioso.
Em suma, enfrentamos um radicalismo desavergonhado, com um projeto de desmantelamento das instituições democráticas e do poder judicial, que está à vista de todos. Não há qualquer tentativa de ocultar o que serão os próximos quatro anos, em caso de uma reeleição de Trump.
Sabemos que potências como a China, a Rússia ou o Irão tentam interferir nas eleições a seu favor. O nível de violência e contestação dos resultados prometido por grupos de terrorismo doméstico fiéis a Trump, pode bem ser capaz de conduzir os EUA a uma guerra civil.
Recordo-me que, nos primeiros dias da campanha de Kamala Harris, após a desistência de Joe Biden, o slogan “We will not go back” apelava às mulheres e minorias que se sentiam mais em perigo. Harris falou também do seu papel como procuradora para pôr criminosos como Trump atrás das grades, mas existe um nível de manipulação que pode muito bem ultrapassar o carisma e as competências da candidata democrata.
Nunca se viu tanto investimento por parte da extrema-direita e bilionários com a sua própria agenda autocrática em tentativas de condicionamento dos eleitores. É graças a esses esforços que tantas pessoas têm caído num buraco sem fundo de teorias de conspiração e narrativas de desinformação, que escolhem como alvo, por exemplo, os imigrantes ou a comunidade trans.
Os últimos anos têm sido como que uma alucinação distópica, com pessoas a serem alimentadas de raiva e descontentamento, ao ponto de se desfigurarem por completo. Muitas vezes, não reconhecemos pessoas com quem nos dávamos no passado, porque se tornaram marionetas grotescas nas mãos da extrema-direita. E, agora, estamos muito próximos de dar o passo coletivo em direção ao abismo.