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TAP lucra há 3 anos, mas não devolveu um único cêntimo

Companhia prometeu em 2022 voltar a pagar dividendos ao Estado com regresso dos lucros. TAP prepara-se para 4º ano consecutivo de lucros, mas ainda não foi devolvido um cêntimo. Até agora, já lucrou 300 milhões de euros, sendo de esperar novo fechar de contas no verde em 2025. Estado vai inibir-se de exigir dividendos com privatização em curso?
21 Novembro 2025, 07h07

Promessas foram feitas, mas não foram cumpridas. É longo o calvário da TAP e dos mais de 3 mil milhões de euros injetados pelo Estado português. Vai haver retorno aos cofres públicos? A partir de quando podem os contribuintes contar com isso?
Em junho de 2022, o então chairman da TAP, Manuel Beja, foi ao Parlamento prometer que a companhia iria começar a pagar dividendos em 2025, altura em que estimava que os lucros já teriam regressado. O ano de 2025 foi mencionado porque era a data prevista para o regresso aos lucros (no plano entregue em Bruxelas em 2020),explicava então o gestor. Em meados de 2022, a companhia esperava ainda ter prejuízos esse ano. Mas surpresa das surpresas: a TAP registou lucros três anos mais cedo face ao previsto no plano: em 2022, 2023 e 2024, num total de 300 milhões de euros. Para este ano, tudo indica que vai voltar a fechar com resultado líquido positivo. E os dividendos? Chegou a altura de cumprir promessas feitas aos contribuintes?
“Conceptualmente, as empresas que são públicas e sendo rentáveis, devem remunerar o acionista”, defendeu ao JE, Miguel Frasquilho, antigo chairman da TAP entre julho de 2017 e 2021, data em que viria a ser substituído por Manuel Beja ainda a companhia não tinha regressado aos lucros nem concluído a reestruturação financeira que só ficou concluída este ano.
O ex-secretário de Estado do Tesouro e das Finanças no Governo de Durão Barroso recorda os lucros registados nos últimos anos pela companhia aérea nacional – que fechou o verão deste ano com lucros de 126 milhões.
Vamos aos números. A TAP está há três anos a dar lucro e prepara-se para fechar as contas no verde este ano. A companhia voltou aos resultados positivos em 2022 com lucros de 65,6 milhões de euros e receitas de 3,5 mil milhões, um novo recorde. Antes desta data, era preciso recuar a 2017 para encontrar um ano com contas positivas na transportadora (100,4 milhões), é claro que a pandemia pelo meio complicou a situação. Já em 2023, os lucros ascenderam a 177 milhões, o seu melhor ano de sempre, e em 2024 foram de 54 milhões.
O JE questionou tanto a TAP como a tutela, o ministério das Infraestruturas, sobre este tema, mas não obteve respostas.

Governo de Costa previu dividendos
Frasquilho salientano atual momento de privatização da empresa e que “o diabo está nos detalhes”. Explica aqui que desconhece se houve algum entendimento entre a gestão da TAP e o acionista Estado para o pagamento de dividendos em 2025 (ou atrasar o seu pagamento). Mas o JE sabe que no anterior Governo de António Costa, que teve Pedro Nuno Santos à frente do ministério as Infraestruturas de Fernando Medina com a pasta das Finanças, estava prevista a possibilidade de pagar dividendos ao Estado, uma vez finda a reestruturação financeira da TAP acordada com Bruxelas. Um processo concluído no início deste ano, com o Governo da AD a dar conta, em janeiro, da conclusão das operações para preparar a reprivatização da TAP: a aquisição pela TAP SA de 100% das participações da TAP SGPS, na Portugália, na UCS – Cuidados Integrados de Saúde e na Cateringpor,
E com a privatização em curso, o acionista Estado está disponível para aprovar dividendos?
“A cabeça dos políticos não está voltada para pagar dividendos, vão evitar qualquer coisa que ameaçe causar ruído” na privatização, aponta o especialista em aviação, Pedro Castro, acreditando que o Governo quer evitar ao máximo o tema da devolução dos 3,2 mil milhões de euros neste momento.
“A cabeça dos políticos está focada no sucesso da operação, em vender a TAP ao valor mais alto possível. Vão evitar correr o menor risco possível”, acrescenta.
No tiro de partida para a privatização este ano, o ministro das Infraestruturas Miguel Pinto Luz disse que a recuperação do dinheiro público seria feito “dentro do possível”, não prevendo um cenário de devolução total.

Devolver dinheiro em dividendos ou com abertura do capital?
Tanto o atual como o anterior governo defenderam a necessidade de reembolsar o Estado pelos apoios de 3.200 milhões de euros, que incluem verbas para fazer face aos efeitos da pandemia de covid-19.
Em dezembro de 2020, quando o então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, marcava presença numa conferência de imprensa, garantia: “Em 2025, a TAP já estará em condições de devolver algum do dinheiro ao Estado português”. O então gabinete de Pedro Nuno Santos avançou, então, ao Polígrafo que “nessa altura [2025], a TAP pode devolver dinheiro em dividendos, se essa for a indicação do acionista. E também poderá devolver dinheiro no momento em que houver algum processo de abertura de capital a terceiros, ou seja, uma venda”.
Mas cerca de cinco anos depois, a principal e única forma de o Estado poder reaver o dinheiro que injetou na companhia aérea será através da venda da participação no capital, ou seja, da reprivatização da TAP. O atual ministro das Infraestruturas já afiançou que não será exequível reaver a totalidade dos 3,2 mil milhões de euros que os contribuintes emprestaram à companhia. Mas sobre o pagamento de dividendos ao Estado nada foi dito até ao momento.
O antigo presidente da TAP, Manuel Beja, chegou a apontar no Parlamento que o pagamento de dividendos é a “forma mais direta de reembolsar o Estado”. Também a antiga CEO, Christine Ourmières-Widener, sempre defendeu que a TAP queria pagar aos portugueses “o mais rapidamente possível”.

Lufthansa e AF-KLM vão a jogo
A Lufthansa anunciou na quinta-feira que vai a jogo na TAP no  processo de privatização da companhia aérea portuguesa. A companhia aérea alemã entregou manifestação de interesse, juntando-se assim à Air France-KLM.
A empresa alemã diz que, além de comprar uma participação minoritária, o seu objetivo é “estabelecer uma parceria de longo prazo entre a Lufthansa e a TAP de forma a assegurar o sucesso futuro da TAP”. “O nosso objetivo é reforçar a conetividade global de Portugal, preservar a identidade portuguesa da TAP e assegurar o crescimento sustentável da companhia aérea”, segundo Carsten Spohr, presidente da Lufthansa.
A TAP Air Portugal é de uma “grande importância estratégica para a indústria de aviação europeia. Continuamos a ver a Lufthansa como o melhor parceiro para a TAP e para Portugal”. A companhia destaca que está ativa em Portugal há mais de 70 anos com mais de 280 voos semanais para o país.
E recorda o seu investimento na unidade da Lufthansa Technik em Santa Maria da Feira, para reparação de peças de motor e de componentes de aviões.
Destaca que é o número um global, fora os EUA, e que oferece a “experiência necessária, tamanho e estabilidade financeira para criar valor sustentável e reforçar o papel da TAP como embaixador do país em todo o mundo”.
A Air France-KLM entregou na terça-feira à Parpública a sua manifestação de interesse com vista a participar no processo de privatização da TAP. “Uma vez mais, fica demonstrado o forte e continuado interesse da Air France-KLM neste processo. Aguardamos com expectativa os próximos passos”, disse fonte oficial da companhia ao JE.
Os interessados na reprivatização de 44,9% da TAP têm até às 16h59 do dia 22 de novembro para demonstrarem oficialmente o seu interesse na privatização.


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