O episódio dos dois altos quadros da TAP que viajaram para Madrid e gravaram um vídeo a partir da plaza Mayor demonstrou, mais uma vez, como a companhia aérea de bandeira continua envolta em equívocos.

O primeiro equívoco é o que mais chama a atenção, mas também será o mais inócuo. Refiro-me à falta de noção demonstrada por estes dois funcionários de uma empresa que está a despedir 1.600 pessoas após ter sido salva pelo dinheiro dos contribuintes.

O segundo equívoco é da administração da TAP, que decidiu abrir um inquérito disciplinar a estes dois funcionários que, até prova em contrário, foram a Madrid com autorização das respetivas chefias. Vão acusá-los de quê? De cumprir ordens? De fazer má figura nas redes sociais ou de gravar vídeos sem máscara? E, já agora, porquê enviar duas pessoas a Madrid para contratar uma só pessoa?

O terceiro equívoco é do ministro Pedro Nuno Santos, que não resistiu a fazer comentários sobre este tema, no mesmo dia em que garantiu não ser ele o CEO da TAP. Primeiro, mostrou-se “indignado”, depois pediu “recato” a quem ocupa altos cargos na TAP e de seguida justificou a ida dos dois funcionários a Espanha como sendo um ato normal de gestão, dada a necessidade de preencher uma vaga em Madrid. Pelo meio, o ministro afirmou que, ao contrário do que dizem as más línguas, não é ele o CEO da TAP, mas apenas o representante do acionista Estado.

Na verdade, Pedro Nuno Santos tem sido um bocadinho disto tudo e a forma como lidou com este assunto comprova-o. Temos um ministro que comenta vídeos de funcionários de uma empresa. Ou o assunto é tão importante que justifica uma intervenção da tutela, ou o ministro ‘estica-se’. Inclino-me para esta última explicação.

Há ainda um quarto equívoco, o mais grave, que é o de achar que uma empresa como a TAP não deve poder contratar pessoas com as qualificações necessárias. Se queremos que a TAP deixe de dar prejuízo e se torne uma companhia competitiva e bem gerida, não há que ter medo de fazer o que é preciso.

Se a TAP continuar a ser gerida ao sabor do vento, consoante os humores de ministros, pressões de sindicatos e partidos políticos, nunca irá levantar voo e continuará a ser um sorvedouro de dinheiros públicos por muitos e bons anos. Como sabemos, empresas que dão prejuízo dificilmente serão privatizadas, mas para muita gente isso não será problema. Antes pelo contrário.