1. Um Governo de maioria absoluta dificilmente tem uma vida fácil, António Costa que o diga. A TAP será, para esta legislatura, o caso mais bicudo de governação e até já fez cair um ministro. O dossiê TAP é aquele que tem um grande peso na atual legislatura.
A novela voltou a estar na ribalta com a recente decisão do acionista Estado, via ministro das Finanças, que aproveitou as conclusões do relatório da Inspeção-Geral de Finançass (IGF) para deliberar despedir a CEO e o chairman da transportadora aérea, com o argumento de justa causa e, ao mesmo tempo, foi solicitada a devolução de grande parte da indemnização recebida por Alexandra Reis, a ex-administradora da TAP, ex-administradora da NAV e ex-governante. Para os gestores da TAP, a próxima tarefa é procurar gabinetes de advogados para litigarem contra o Estado.
Este despedimento acontece numa altura em que se espera resultados do exercício da TAP e já se fala em lucro superior a 30 milhões de euros (informação desmentida pela companhia), o que significa que a equipa de gestão estava a cumprir os objetivos, sendo por isso um argumento para colocar em causa a “justa causa”, sem esquecer que a administração atuava a mando da tutela, tendo o respetivo ministro assumido a autorização de pagamento da indemnização à ex-gestora Alexandra Reis e apresentado a demissão.
No caso de Alexandra Reis, o seu afastamento foi uma decisão política, tendo de seguida sido nomeada para a NAV e depois para o Governo, apesar da ex-CEO a querer afastar. O que é curioso nesta novela é que deixam na administração da TAP os restantes elementos, incluindo o CFO, no qual estão delegadas grande parte das competências.
É por isso que repetimos que a TAP continuará a ser o grande peso deste Governo. A deliberação de privatização não ficará facilitada e os grupos potenciais acionistas irão contrariar tudo o que o Governo invocou para a renacionalização, perdendo-se rotas críticas, a ligação à lusofonia e os centros de decisão, que irão parar a uma BA, Air France ou Lufthansa.
Ora, facilmente se conclui que com estão todos a tentar sacudir a “água do capote”. E, neste aspeto, o Governo está em verdadeira roda livre, com opções políticas ad-hoc, cujo custo cairá no último reduto: o contribuinte.
Houve uma oportunidade para resolver a questão da TAP quando o general Lemos Ferreira foi presidente do conselho de gerência da ANA – Aeroportos e Navegação Aérea e quis fazer aquilo que italianos e suíços fizeram, mas o país preferiu continuar a viver “à bolina”.
2. O dossiê “Mais Habitação” é algo manifestamente impopular, ao contrário daquilo que alguns círculos próximos do Governo fazem crer. Aliás, este pacote não terá qualquer resultado benéfico no curto prazo, sendo que no médio e longo prazos teremos a política da habitação centrada ou nas autarquias ou nos grandes conglomerados/fundos a serem criados para o efeito.
Aquilo que sempre foi o tradicional investidor/aforrador que aplicava dinheiro num ativo para arrendar e para lhe garantir uma melhor reforma, acabou.
Ninguém voltará a ter confiança nas políticas públicas da habitação, pois significam perda potencial da decisão sobre o ativo, inexistência de estímulos para investimento no longo prazo e, repito, medo e desconfiança. Mais. Ainda irá espoletar “guerras” no interior do PS. Basta lembrar que o ex-ministro Pedro Nuno Santos se tem remetido ao silêncio, vai ser comentador televisivo e ainda não assumiu o lugar de deputado.