Nos anos 80, um amigo portuense brincava com um slogan da ferrovia que afirmava que “a CP não anda, voa”. Na pronúncia do Norte, dizia o amigo jocoso, a frase era outra: “A CP não anda boa.” No caso da TAP, atualmente, pode-se dizer duas coisas, não voa (muito) e também não anda boa.

A situação da TAP não é brincadeira nenhuma, claro, e infelizmente também não é novidade. Sabíamos desde o início da pandemia da Covid-19 que a companhia aérea seria, provavelmente, das grandes empresas portuguesas, a que mais iria sofrer.

A natureza das medidas de confinamento ditava logo isso. Os aeroportos transformados em parques de estacionamento, com aeronaves coladas ao chão, representavam um pesadelo para qualquer empresa de aviação: não poder voar.

A TAP não está sozinha. O impacto foi sentido pelo setor inteiro de forma global. Em todo o mundo, as companhias viram-se obrigadas a pedir ajuda estatal para tentar sobreviver. Algumas, como a Flybe, a South African e a Avianca, não conseguiram e aterraram na falência. A audição do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, que voltou ao Parlamento esta semana, serviu principalmente para o Governo nos recordar que a TAP não está fora de risco, que poderá ter de declarar insolvência.

Os problemas da TAP são anteriores à Covid-19. A companhia estava a renovar a frota e as rotas, mas foi apanhada por atrasos na entrega dos aviões. De regresso aos prejuízos, cometeu o erro de brindar uma série de trabalhadores com prémios chorudos. As reações a esse episódio já sinalizavam que as relações entre os três acionistas principais – o Estado e os dois privados – estavam fragilizadas.

A solução acionista criada para a TAP com a privatização e a reversão iria sempre produzir o que os ingleses chamam de odd bedfellows, parceiros desconfortáveis.

Agora, após os prejuízos e a perspetiva de perdas ainda maiores, com os lay-offs e o espectro de milhares de despedimentos, com a provável redução da frota e das rotas, tudo na sombra de uma dívida de 3,3 mil milhões, as comadres vão ter de se entender.

O Estado tem todo o direito de impor condições para ajudar, incluindo um grau de controlo, intervenção no plano estratégico e presença na comissão executiva. Mas tem também a obrigação de manter a promessa que o ministro fez – ser cauteloso e razoável na imposição dessas condições. Isso poderá começar por ajudar os acionistas privados a poderem acompanhar um aumento de capital, por exemplo transformando os créditos que têm para com a empresa.
A outra é não demorar na criação da solução, caso contrário a TAP cai no buraco cavado pela pandemia e pelos problemas anteriores.

A TAP não é perfeita, mas é importante para o país. Entendam-se e não nos obriguem a Take Another Plane.