Um inquérito da Câmara de Comércio da União Europeia na China, divulgado hoje, concluiu que empresas europeias com operações no país sentem efeitos positivos da guerra comercial, com o aumento das tarifas chinesas a punir competidores norte-americanos.
As conclusões do inquérito indicam que os seus membros, embora também sofram o impacto económico global da guerra comercial do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, poderão conquistar quota de mercado às empresas norte-americanas que exportam para o mercado chinês.
O inquérito revelou que 19% das empresas inquiridas já estão a receber mais negócios de clientes chineses e estrangeiros que operam no país asiático devido à guerra comercial, enquanto 36% ainda não sentiram um impacto positivo, mas esperam vir a sentir.
“O que ouvimos dizer é que há uma série de empresas europeias que estão a competir com as empresas norte-americanas e talvez em particular com as importações oriundas dos Estados Unidos”, disse Jens Eskelund, presidente da Câmara da UE, na apresentação do relatório.
“Se essas importações [norte-americanas] estiverem a diminuir e a China tiver de encontrar fornecedores, não norte-americanos, noutros países, isso poderá trazer benefícios”, apontou.
Eskelund sublinhou que tal não significa que as empresas europeias estejam a usufruir de um benefício líquido “mensurável” da guerra comercial, com o abrandamento económico e a incerteza a pesar sobre a rentabilidade e os planos de investimento.
A China construiu uma eficaz máquina de exportação, mas as empresas estrangeiras, incluindo as dos EUA, continuam a desempenhar um papel importante, nomeadamente no fornecimento de maquinaria de alta qualidade e de componentes para a produção industrial.
As empresas total ou parcialmente detidas por investidores estrangeiros representam cerca de 30% do valor comercial da China, sendo que muitas delas utilizam componentes importados para produzir bens na China para venda local ou para exportação.
O inquérito da Câmara da UE mostrou que as tarifas de 125% impostas pela China sobre bens oriundos dos EUA estão a ter um impacto maior nos seus membros do que as tarifas de 145% impostas por Trump sobre os produtos chineses.
Cerca de 44% dos inquiridos afirmaram ter importado bens dos EUA que foram afetados pelas tarifas chinesas, tendo a maioria afirmado que o preço desses artigos já tinha aumentado ou vai aumentar.
A maioria dos inquiridos afirmou que responderia aos preços mais elevados dos produtos norte-americanos através de uma mudança de fornecedor.
Em contrapartida, apenas 31% afirmaram que estão a ser afetados pelas taxas alfandegárias dos EUA sobre produtos chineses.
Os resultados diferem ligeiramente de um outro inquérito da Câmara de Comércio Alemã na China, realizado no mês passado. Este estudo revelou que mais membros foram afetados pelas tarifas dos EUA sobre os produtos chineses, mas principalmente de forma indireta.
Ambos os inquéritos sugerem que a guerra comercial afetou seriamente a confiança das empresas, mas que as empresas europeias ainda estão a avançar com estratégias de “localização” para as suas operações na China.
Esta localização significa aumentar o abastecimento local das operações no país asiático para reduzir a dependência das importações e diminuir o risco geopolítico para as suas cadeias de abastecimento chinesas.
“Apesar de toda esta tensão, se quisermos competir em termos de preço e qualidade, a China continua a ser o local onde temos de estar”, afirmou Eskelund. “Por isso, apesar de toda a gente falar em reduzir os riscos e de toda a gente querer ficar menos dependente da China, o que vemos é um pouco o contrário”, explicou.
Segundo o responsável, a guerra comercial não está a travar esta tendência. “Na verdade, estamos a ver, de certa forma, as dependências da China a aumentar, não a diminuir”, descreveu.
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