Neste último par de dias tenho ouvido alternadamente o “The Tariff Tango”, de Billy Camden, e o “World, Hold On” de Bob Sinclar. Tudo isto porque, confesso, Trump acabou por impor tarifas aos países que transacionam com os EUA, a que chamou recíprocas, mas na verdade são arbitrárias. “Recíprocas” só pode ter uma leitura: se um país impõe tarifas de 20% sobre os bens importados de outro, é retribuir com tarifas de 20%. Mas não é o que foi feito pelos EUA.
Segundo o Executive Office of the President, foi aplicada a fórmula:
Nesta, o aumento das tarifas é igual a, no numerador, o saldo do comércio com o país (exportações menos importações) e, no denominador, o produto da elasticidade-preço das importações com a repercussão de tarifas nos preços e com o valor das importações.
Nesta, o aumento das tarifas é igual a, no numerador, o saldo do comércio com o país (exportações menos importações) e, no denominador, o produto da elasticidade-preço das importações com a repercussão de tarifas nos preços e com o valor das importações.
Trump deve ter gostado, tem muitas letras gregas; todavia, é uma fórmula arbitrária na definição dos valores dos parâmetros e no que mede, pois não é uma tarifa, mas sim uma espécie de índice de comércio – o valor em concreto de exportações e importações depende de muitos outros fatores além das tarifas. Mais importante, pode acontecer que um país pequeno e pobre não tenha capacidade de importar significativamente bens exportados pelos EUA, porém tenha recursos naturais adquiridos pelos americanos – terá então um numerador bem positivo e um denominador quase nulo, uma combinação mortal que eleva muito a tarifa de Trump sem ter que ver com barreiras ao comércio.
Não é, portanto, estranho que o valor mais alto da tarifa Trumpiana, 50%, seja do Lesoto, país do tamanho da Bélgica com apenas 2,3 milhões de habitantes e cujo PIB é menos de 0,7% do português. Exporta num ano para os EUA 240 milhões de dólares, 25% diamantes e praticamente o resto em vestuário, e importa três milhões – a prioridade para o Lesoto é energia.
Também com 50% está São Pedro e Miquelão, território ultramarino francês perto da Terra Nova que Trump desconhece pois ainda não disse que o ia anexar. Trump que, aconselhado por Musk, cortou o apoio de 50 milhões de dólares em preservativos para Gaza, só que era Gaza em Moçambique num programa de combate à Sida. Em fevereiro Trump dizia que pagava a dívida dos EUA de 36 milhões de milhões de dólares com a concessão de vistos gold, agora resolve o défice externo com tarifas. Para o Mundo, é esperar pelos próximos passos do notável autor do livro “Tariffs by Dummies”.