O recente acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos, que fixa em 15% as tarifas aduaneiras norte-americanas sobre os produtos europeus a partir de 1 de agosto, tem sido recebido em Portugal com uma mistura de alívio e preocupação.

O primeiro-ministro Luís Montenegro saudou, e bem, o entendimento, destacando a “previsibilidade e estabilidade” que este traz à economia e a sua capacidade de “evitar a escalada” de uma guerra comercial. Contudo, esta visão otimista é temperada por alertas sobre as novas exigências e os potenciais custos para as empresas e consumidores.

A verdade é que a negociação foi complexa e o resultado, embora elogiado por alguns como “melhor do que uma guerra comercial”, é visto por outros como “não ideal” ou até “desequilibrado”. A imposição de uma tarifa de 15% representa um ponto de compromisso, evitando a ameaça inicial de 30% que pairava sobre as exportações europeias. Este pacto, segundo Bruxelas, é crucial para oferecer a certeza que as empresas transatlânticas necessitam para planear as suas operações e investimentos.

No entanto, a Associação Empresarial de Portugal (AEP) já expressou preocupação, salientando que os impactos dos direitos aduaneiros tenderão a ser maiores nos setores com maior grau de exposição aos EUA, como o automóvel e o têxtil. É um facto que, apesar da estabilização, o custo de fazer negócios entre os dois blocos pode aumentar para certas indústrias, o que se traduzirá em desafios para a competitividade das empresas portuguesas. O Secretário-Geral do PS, José Luís Carneiro, ecoou esta cautela, admitindo que o acordo pode não ser o ideal, mas reconhecendo-o como “o possível” face ao contexto.

Para Portugal, que ocupa o 9º lugar em dependência das exportações para os EUA na UE, com 6,8% do total, a atenção deve estar focada em como mitigar os efeitos negativos e explorar as novas oportunidades que possam surgir. A promessa do Governo de apoiar as empresas portuguesas neste novo quadro e de garantir “total cooperação” para facilitar o acesso a novos mercados é fundamental.

O acordo também abrange a proposta de uma “aliança metalúrgica” e inclui aquisições estratégicas de chips de energia e inteligência artificial, sinalizando uma dimensão mais profunda de cooperação e concorrência tecnológica. Esta vertente, embora prometedora para o futuro, coloca novas exigências de adaptação e investimento para as empresas e governos europeus.

Em suma, o acordo comercial UE-EUA é um ato de equilíbrio. Oferece uma muito necessária previsibilidade e afasta o fantasma de uma escalada comercial descontrolada. Contudo, não é um caminho isento de desafios.

Portugal e a Europa devem agora focar-se em estratégias robustas para apoiar as suas empresas, incentivar a inovação e garantir que a estabilidade conquistada não se venha a traduzir em estagnação, mas sim num novo impulso para a economia. A “história não terminou”, como referiu o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o processo negocial, de certa forma, continua na capacidade de adaptação e resiliência das nossas economias.