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Taxa Ponto Verde com impacto “significativo” nas receitas das adegas

A taxa Ponto Verde, que foi subitamente elevada em 160%, vai acrescentar três milhões de euros à despesa das adegas cooperativas, um esforço adicional “significativo”, segundo a Federação Nacional de Adegas Cooperativas (Fenadegas) e a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri).
31 Julho 2025, 07h00

As adegas cooperativas representam, segundo dados do mercado, entre 500 a 600 milhões de euros de volume de negócios – uma percentagem da ordem dos 20% em relação ao total da receita do setor nacional dos vinhos. Neste contexto, os três milhões de euros que a nova taxa da Sociedade Ponto Verde, agora aumentada em 160%, vai implicar “terão um impacto significativo nas adegas”, disse ao JE o presidente da Federação Nacional de Adegas Cooperativas (Fenadegas), António Mendes. “Desde o início do ano que estamos a pagar a nova taxa; de que forma a vamos absorver?”, questiona, para adiantar que o setor está evidentemente de acordo com a reciclagem, “mas talvez tivesse sido mais acertado haver um período transitório, em vez deste aumento abrupto”. Num subsetor em que 40% da produção é engarrafada, “o aumento da taxa de um cêntimo por garrafa para quase três cêntimos” é difícil de acomodar do ponto de vista financeiro.

As duas associações estiveram recentemente reunidas com o ministro da Agricultura, a quem apresentaram um ‘caderno de encargos’ de 70 medidas com as quais aqueles organismos pretendem reativar o negócio. O conjunto de medidas mais importante, ou das mais importantes, tem a ver com o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), que se mantém num limbo incompreensível. Para António Mendes, o instituto “deveria estar sob a dependência direta do ministro e não de um secretário de Estado”, o que lhe conferiria outro grau de importância. O reforço das suas competências – depois de devidamente clarificada a sua liderança – é, para o presidente da Fenadegas, essencial. “O IVV não tem meios para fazer a fiscalização” que lhe compete, o que se revela um transtorno grave para o setor.

Outro dos pacotes de medidas tem a ver com o apoio à contratação de técnicos de marketing que ajudem a aumentar as vendas. Num contexto em que o consumo está a cair, uma medida deste género afigura-se essencial – e a ela devem acrescentar-se operações de publicidade que incentivem o consumo de produto nacional em detrimento das importações.

Mas em cima da mesa está também a possibilidade de um corte de 20% nas verbas destinadas à agricultura. Numa altura em que a Europa alinha no setor da defesa, Idalino Leão, presidente da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri), recorda que a independência alimentar é uma questão de soberania. O próximo Quadro Financeiro Plurianual da União Europeia pode vir a ser um desastre para o setor. Idalino Leão, presidente da Confagri, disse ao JE que “a agricultura e a alimentação são fatores de soberania e independência”, precisamente aqueles que os investimentos em defesa perseguem. Ora, nesse quadro, não faz sentido colocar em perigo um setor que contribui positivamente e de forma clara para essa soberania.

Até porque não é apenas o alinhamento na defesa que está a exercer pressão sobre o setor agrícola. Também o acordo de largo espectro entre a União Europeia e o Mercosul tem tudo para exercer um impacto negativo. Não estando contra o acordo, Idalino Leão afirma que a União Europeia “tem de exigir” um tratamento igual entre os agentes económicos europeus e os da América Latina. “Os agricultores europeus não podem sair prejudicados” e, para isso, é essencial que “tanto em questões de recursos humanos, como de segurança alimentar e mesmo questões ambientais sejam exigidas de igual modo” dos dois lados do Atlântico.

Mas o certo é que não é isso que se passa em outros setores comparáveis. O têxtil e o automóvel são disso prova – e Idalino Leão está ciente disso, exigindo apenas que os maus exemplos não voltem a repetir-se.

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