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“Tecnologia é inútil se as pessoas não forem capacitadas para tirar vantagem dela”, defende embaixador da AWS

A Amazon Web Services (AWS) propôs-se a ensinar 29 milhões de pessoas sobre computação na ‘cloud’. O objetivo foi atingido e ultrapassado. Para perceber o que esteve por trás deste propósito, o JE falou com o embaixador de ‘Digital Skills’ da AWS, Carlos Carús.
Carlos Carús AWS
29 Agosto 2024, 07h30

A Inteligência Artificial (IA) tem tido vários avanços e já provou que veio para ficar. Pelo caminho tem impactado pessoas e a forma como trabalham, mostrando que há maneiras diferentes de se fazer o mesmo.

Um estudo da União Europeia sobre a IA no mercado de trabalho mostra que muitos parecem não saber descrever o que é, mas outros tantos classificam-na como a ‘new kid on the block’, com o objetivo de explicar de se trará de algo popular entre os jovens. Mas, de facto, são as tecnologias com IA que têm ganho tração no mercado de trabalho, e que muitos ditam que não devem ser ignoradas.

Exemplo disto é o facto de a Organização Internacional do Trabalho (OIT) evidenciar que o “impacto da IA é nascente e evoluindo”, além de que uma investigação recente da mesma entidade mostrar que esta tecnologia “tem maior probabilidade de aumentar os empregos em vez de os automatizar”.

“Apenas 2,5% dos trabalhos estão potencialmente expostos aos efeitos da automatização da IA”, indica o mesmo relatório, sustentando que este valor desce para os 0,4% em termos de países subdesenvolvidos e aumenta para os 5,1% nos países de rendimento elevado.

Assume ainda a OIT que “a digitalização está, sem dúvidas, a provocar rápidas mudanças no âmbito das profissões agora disponíveis aos jovens, quando em comparação há 20 anos”. Mas há um problema quando se fala em apostar na digitalização e na formação em IA: os (poucos) cursos que existem são caros, maioritariamente de formação académica.

Foi com este problema em mente que a Amazon Web Services (AWS) se comprometeu, em dezembro de 2020, com um programa de formação para as pessoas desenvolverem competências de computação cloud. A empresa dedicada à cloud do grupo Amazon revelou um investimento na ordem das centenas de milhões de dólares, com o claro objetivo de formar 29 milhões de pessoas a nível mundial até 2025.

Este ano, esse mesmo objetivo foi ultrapassado, com a AWS a revelar a formação de 31 milhões de pessoas. E porquê um valor tão elevado de interessados neste curso? A formação da AWS é gratuita.

Para perceber qual a atração por estes cursos da AWS – além da gratuitidade -, o Jornal Económico falou com Carlos Carús, embaixador da AWS para a Educação na Europa, Médio Oriente e África (EMEA) e antigo responsável de Tecnologia na AWS.

Qual a razão para que a AWS tenha decidido formar este número de pessoas em tecnologias cloud?

Há aqui duas vertentes: o porquê de formar 29 milhões e como fomos capazes de materializá-lo. E também podemos ver este objetivo através de duas dimensões, a AWS sendo uma empresa internacional temos a responsabilidade de devolver às pessoas parte do que estamos a gerar e a criar.

Por isso, temos esta ideia de que precisamos de proporcionar às pessoas as habilidades vitais para que consigam um emprego e vida melhor, de forma a arriscarem. Na minha opinião, a AWS tem um enorme número de tecnologia incrível e extremamente fácil de utilizar.

O nosso objetivo é democratizar a tecnologia, de forma que as pessoas saibam o ponto de acesso a tecnologias avançadas como Big Data, Inteligência Artificial, Internet of Things (IoT) e outras que são fáceis de utilizar. Mas o que acontece, independentemente do esforço que façamos para tornar a tecnologia o mais acessível possível, se as pessoas não souberem da arte do possível e não tiverem as habilidades, então não acontece nada, certo?

A tecnologia é inútil se as pessoas não forem capacitadas para tirar vantagem dela. Podemos ver isto com uma analogia: as pessoas podem ter o melhor carro de Fórmula 1, mas se não têm um piloto capacitado não vão ganhar a corrida.

 E de onde surgiu a ideia?

Deparámo-nos com uma análise, penso que da IDC, em que diziam que, em 2025, nove em cada 10 empresas iam ter dificuldades em encontrar o talento que procuram.

Olhando especificamente para Portugal, 71% das empresas nesta área de serviços assumiu que já estão a sentir alguma dificuldade em identificar o talento que estão à procura nos candidatos.

E é realmente difícil ver o impacto que estes números têm a nível internacional. Porque o facto de nove em cada 10 projetos serem adiados porque não há talento para contratar tem um impacto internacional de 6,5 biliões de dólares. Não sei que número é este, mas é uma gigantesca quantidade de dinheiro.

Basicamente o que observámos é que não importa o quanto a tecnologia é acessível se as pessoas não forem habilitadas. Isto comporta a ideia que a Suzana [Curic] passa: “Não há transformação digital sem educação”.

Foi então que decidimos fazer algo, mas depois concluímos que tinha de ser algo a nível global, algo em grande… Então definimos uma meta de cinco anos e um objetivo de capacitar 29 milhões de pessoas para o uso de tecnologias.

Como foi todo o processo?

No primeiro ano chegámos aos seis milhões. Pensámos logo que estava a resultar e que nos tínhamos proposto um desafio giro. No segundo ano atingimos os 13 milhões e no terceiro ano os 21 milhões. A 10 de julho chegámos à marca dos 31 milhões, o que significava que ultrapassámos o objetivo a que nos propusemos.

Felizmente conseguimos fazer isto de forma muito orgânica, numa base diária. Houve um grande investimento, de centenas de milhões, mas entregámos mais de 600 cursos gratuitos na nossa plataforma de criação de habilidades, em 40 idiomas.

Criar estes cursos de computação na cloud não é algum tipo de tecnologia dimensional. Falamos de cursos avançados, mais de 600 cursos traduzidos em várias línguas. Totalmente gratuitos para qualquer pessoa. E ainda abrimos um centro de habilitações, com localizações físicas, em que qualquer um pode entrar e receber formação. Atualmente temos três: Seattle, Arlington (Vírgina, EUA) e Cidade do Cabo (África do Sul).

Mas a tecnologia tem avançado rápido, especialmente no que refere à IA Generativa. Os cursos mantêm-se atuais?

Claro. Lembro-me de estudar engenharia de computação na cloud, nos anos 90, e já havia vários modelos de IA em testes. Demorou imenso tempo a retirar algo dali, mas a computação na cloud tem fornecido uma quantidade quase ilimitada de capacidade computacional e armazenamento. Agora executam esses mesmos modelos e transformaram-nos em realidade.

Agora, a IA Generativa é o que está a moldar tudo. Mas há um desafio: se estamos a enfrentar uma nova revolução digital, então temos de ter a certeza de que não geramos um gap digital. Temos de garantir que as pessoas têm as capacidades e tiram proveito da tecnologia.

Por isso é que temos o compromisso, e também a certeza, de treinar o maior número de pessoas possíveis para estas tecnologias. Isto porque o gap digital tem um impacto negativo na economia.

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