Assim, ilustrava as dúvidas decorrentes da segunda revolução industrial, no início do século XIX, com a aparição da figura de um humanoide com enorme força e com sentimentos contraditórios, que respondia ao nome de Frankenstein. Um século e meio depois, a primeira crise do petróleo deu pé a filmes como Mad Max ou a Guerra das Estrelas, que questionavam os limites do crescimento e também transmitiam a ideia de que a tecnologia podia-se transformar num problema para a sobrevivência da humanidade. Em sentido oposto, a seguir à Segunda Guerra Mundial, vivemos tempos de crescimento económico e de otimismo que nos permitiram projetar um futuro idealizado e aspirar à conquista de novos mundos: foi a época do fenómeno Star Trek.

Embora a cinefilia não se encontre entre os meus principais interesses, tenho continuado particularmente atento à correlação entre a evolução tecnológica e os temas dominantes nos ecrãs em cada momento. Assim, há duas décadas, a descoberta da magia da Internet e o correspondente maior protagonismo social dos jovens teve a sua correspondência no sucesso da saga de Harry Potter, que misturava mundos e tempos de forma análoga à nossa descoberta de uma realidade virtual. Com o início da crise atual, reparei na grande quantidade de séries sobre zombies, que é um fenómeno que também liga dois mundos: o mundo velho, cheio de vida, que se degrada num mundo novo tão deteriorado como o aspecto físico dos seus protagonistas. Em simultâneo, tivemos o fenómeno das séries, noveladas ou reais, de pessoas perdidas, encerradas ou abandonadas em ilhas, que parece-me ilustrar metaforicamente a desorientação social do tempo em que vivemos e a necessidade de escapar para um mundo melhor.

Nos cartazes de hoje, voltam a estar na moda os filmes e as novelas distópicas, que projetam um futuro de destruição generalizada com base nas inseguranças e carências atuais que, para alguns, são o preâmbulo do fim do mundo.

Não é difícil antecipar que o grande tema a seguir será o domínio do mundo pelos robôs humanoides que, após começarem já a ocupar o nosso lugar nas fábricas, poderão acabar por conquistar, pacificamente ou não, os nossos sofás. E, talvez, o coração dos nossos parceiros.