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Tecnológica americana ameaça desinvestir em Portugal devido a burocracia “asfixiante”

O CEO da Cloudflare afirmou que o ambiente de negócios no país tem piorado significativamente desde que a empresa iniciou os seus investimentos, acusando o Governo de não cumprir promessas feitas para facilitar a operação das empresas. Não hesitou ainda em comparar Portugal a outros mercados emergentes, como a Colômbia e o Chile, sugerindo que estes países oferecem condições mais atraentes.
Matthew Prince, Co-Founder and Chief Executive Officer, CloudFlare, USA speaking in the In the Name of National Security session at the World Economic Forum Annual Meeting 2023 in Davos-Klosters, Switzerland, 17 January. Sanada. Copyright: World Economic Forum/ Greg Beadle
27 Maio 2025, 07h00

O futuro do investimento da Cloudflare em Portugal enfrenta incertezas, uma vez que o CEO da empresa, Matthew Prince, expressou críticas contundentes à atuação do Governo português.

Em várias publicações na rede social X, Prince afirmou que o ambiente de negócios no país tem piorado significativamente desde que a empresa iniciou os seus investimentos, acusando o Governo de não cumprir promessas feitas para facilitar a operação das empresas.

“Honestamente, Portugal piorou muito desde que começámos a fazer investimentos no país. Se a tendência continuar, deixaremos de investir”, alertou Prince, que destacou a falta de garantias por parte do Governo para as empresas tecnológicas que consideram investir em território nacional.

“Se estiveres a considerar como empresa tecnológica [investir em Portugal], serias louco em fazê-lo sem nenhumas fortes garantias por parte do Governo”, acrescentou.

Mas há mais, segundo o líder da Cloudflare. “Prometeram-nos mundos e fundos para contratar muitas pessoas em Portugal. Contratámos estas pessoas e o Governo português não cumpriu nenhuma das suas promessas”, pode-se ler, apelidando a situação de “palhaçada”.

O CEO mencionou que a Cloudflare, que inaugurou a sua sede europeia em Lisboa em outubro de 2024, tinha ambições de contratar entre 400 a 500 novos colaboradores, mas agora depara-se com um panorama que considera desanimador.

As principais queixas de Prince incluem a burocracia excessiva, com foco particular nos processos de imigração e licenciamento, que descreveu como “asfixiantes”. Além disso, lamentou a falta de um aeroporto funcional, o que, segundo o administrador da Cloudflare, agrava ainda mais as dificuldades enfrentadas pelas empresas.

Mas quais os problemas? “A maioria sobre imigração, mas também licenciamento e burocracia asfixiante no geral. E uma completa falta de um aeroporto funcional”.

“Acima de tudo, estou farto que digam que as coisas vão melhorar se investirmos mais, apenas para continuarem a piorar”, rematou.

O executivo disse que já contratou “mais de 400 trabalhadores”, mas apontou que o valor seria “duas vezes superior com um Governo competente”.

Prince não hesitou em comparar Portugal a outros mercados emergentes, como a Colômbia e o Chile, sugerindo que estes países oferecem condições mais atraentes do que as que se encontram em território português.

“Colômbia, Chile e agora talvez até a Argentina. Tudo países mais sérios do que Portugal”, respondeu a um utilizador que elogiou a América do Sul.

Recordou ainda experiências passadas, como a longa espera na imigração no Aeroporto Humberto Delgado, que já havia manchado a sua primeira impressão do país.

Mas há mais, segundo o líder da Cloudflare. “Prometeram-nos mundos e fundos para contratar muitas pessoas em Portugal. Contratámos estas pessoas e o Governo português não cumpriu nenhuma das suas promessas”, pode-se ler, apelidando a situação de “palhaçada”.

Prince diz que está farto de ouvir que o país é “mais amigo do investimento”, e que ouviu bastante a expressão nos últimos 6 anos. “Muita conversa. Nada muda”.

Sobre o aeroporto acrescentou: “A situação no aeroporto de Lisboa é muito má. As multinacionais a pensarem a investirem aqui deviam pensar duas vezes”.

Como é fazer negócios em Portugal face ao Médio Oriente ou Ásia? “Portugal promete mais e entrega muito menos”.

Mais: “a qualidade de vida vai desaparecer quando os empregadores sérios começarem a retirar-se. Somos um empregador bastante sério e estou farto que me mintam”, escreveu quando questionado sobre a qualidade de vida do país.

O Jornal Económico pediu uma reação ao ministério da Economia, mas não obteve resposta.

As declarações do CEO da Cloudflare não são um caso isolado; refletem um histórico de descontentamento com o ambiente de negócios em Portugal.

Em 2022, a companhia foi contratada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), mas houve polémica por os dados dos Censos 2021 ficarem sujeitos a programas de vigilância dos EUA, pois a companhia está sediada na Califórnia, segundo uma fiscalização levada a cabo pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD). O contrato foi suspenso e os dados pessoais dos portugueses não foram enviados para os EUA ou para outros países que não cumpram as regras europeias do RGPD. A Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) acabou por aplicar uma coima de 4,3 milhões de euros ao INE por violações do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD).

Em 2020, a companhia queixava-se de “decisões arbitrárias do SEF”, dificuldades com a Alfândega ou renovações de cartas de condução. “Chegámos a enviar pessoas à Madeira para ir buscar documentos, porque lá não há os problemas burocráticos que temos em Lisboa”, disse Matthew Prince em novembro de 2020 em entrevista ao Diário de Notícias”

Mas o gestor também fez duras críticas noutros países, como na Irlanda. “Ninguém quer viver na Irlanda a não ser que seja irlandês”, disse em dezembro de 2020, citado pelo “Irish Independent”.

Na sua opinião, a Irlanda não recebe bem as pessoas e que a “comida e o tempo não prestam”.

Com a atual insatisfação, o investimento futuro da Cloudflare em Portugal poderá estar em risco, caso o Governo não tome medidas para cumprir as promessas feitas e melhorar o ambiente de negócios.

A companhia gerou receitas de 1.670 milhões de dólares em 2024, mais 29% face a 2023.

O lucro bruto atingiu 1.291 milhões de dólares, com o lucro líquido a atingir 79 milhões uma quebra face aos 184 milhões registados em 2023.

Para 2025, a empresa esperava, no final de 2024, receitas de quase 2.100 milhões de dólares.

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