O governo israelita continua a sua ofensiva militar, ao levar a guerra a todos os regimes do Médio Oriente que ameaçam a sua existência. Já tinha o Irão na sua mira há muito tempo e as ameaças passaram à concretização. A administração altamente instável de Donald Trump alinhou em abrir mais uma frente de guerra no Médio Oriente. Neste momento, Teerão e Telavive são cidades sob ataque e esta nova escalada empurra a região para um caos cada vez maior.

O Irão tem sido uma nação isolada há décadas, desde que chegou ao poder o regime islâmico xiita que vigora desde 1979. Mas qual o ocidental que pode dizer que conhece realmente o Irão e a cultura iraniana, uma sociedade que tem permanecido arredada dos nossos olhares? Nos últimos anos, assistimos aos imensos protestos de jovens iranianos que saíram às ruas em oposição ao regime sanguinário de Teerão. Foram brutalmente reprimidos pela Guarda Revolucionária Iraniana e todas as vozes dissidentes têm sido presas e silenciadas.

Nem sempre foi assim. Muitos julgam que o Irão é um país falante de língua árabe, quando, na verdade, a cultura persa constitui uma das civilizações mais antigas e influentes do mundo e que nos ofereceu algumas das maiores obras-primas na arte, filosofia, poesia e literatura. Teve um primeiro-ministro democraticamente eleito nos anos 50, Mohammad Mossadegh, que foi derrubado num golpe de estado orquestrado por americanos e britânicos, abrindo caminho para uma consolidação do poder do Xá da Pérsia. A governação do Xá, mais liberal e alinhada com os interesses do Ocidente, levou a insatisfação profunda e uma revolta crescente, alimentada pelo fundamentalismo islâmico de Khomeini, que depôs o Xá e transformou o Irão numa república islâmica.

Por maior ameaça que constitua o regime iraniano, não nos deixemos enganar. Esta é outra guerra provocada por Netanyahu e que lhe permite escapar, mais uma vez, ao escrutínio e ao julgamento. Continua, contra tudo e todos, a apostar as fichas na sua sobrevivência, demonizando os seus inimigos, com o pretexto de uso de armas nucleares (a lembrar o pretexto usado para a invasão do Iraque), e não hesitando em cometer crimes da pior espécie. Não há um fim à vista a este rasto de destruição?

A comunidade internacional continua a fracassar ao ser incapaz de estabelecer linhas vermelhas. E num mundo sem linhas vermelhas, com quem podemos contar para zelar pela justiça e o cumprimento das normas do Direito Internacional?